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Criminalidade domina ambiente pré-eleitoral na Argentina
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JAMES MATTHEWS
DA REUTERS, EM RAMOS MEJÍA (ARGENTINA)
Nos bairros ricos e nas favelas vizinhas, os portenhos convivem com alarmes, grades e uma crescente sensação de medo, assunto que pode ser o calcanhar de Aquiles da presidente Cristina Kirchner numa eventual tentativa de reeleição, dentro de sete meses.
Os argentinos costumavam se orgulhar da reputação de segurança do país, mas nos últimos anos a coisa tem mudado drasticamente.
"Veja o que minha casa virou", disse o empresário Raúl Martino, cujo filho foi morto a tiros durante um assalto no ano passado na sua casa, em Ramos Mejía, subúrbio de Buenos Aires.
"Grades por todo lado, alarmes. Somos prisioneiros. [Mas] se você escuta a presidente falar, parece que não há crime nenhum."
Cristina, de centro-esquerda, é acusada pela oposição conservadora de ser demasiadamente branda com os bandidos e alheia ao clamor popular por uma "tolerância zero" contra o crime.
A popularidade da presidente ainda é de cerca de 50%, bem superior à de outros políticos, mas adversários direitistas como o ex-presidente Eduardo Duhalde e o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, podem usar a questão da segurança contra ela na campanha eleitoral.
Tentando se antecipar a isso, Cristina criou em dezembro um Ministério da Segurança Pública, e mobilizou guardas de fronteira para reforçar temporariamente a segurança na província de Buenos Aires.
Em um discurso no começo do mês, ela pediu aos rivais e à imprensa que deixem de usar a criminalidade para fins eleitorais. "Isso não pode ser objeto de discussões infantis", afirmou ela.
Mas uma pesquisa feita em fevereiro pelo instituto Poliarquia, de Buenos Aires, revelou que 40% dos argentinos consideram a criminalidade como o maior problema do país, bem à frente do desemprego (11%) e da pobreza (8%).
Em nenhum lugar o medo é mais palpável do que nas populosas periferias portenhas, onde é comum que casas de classe média sejam vizinhas de favelas miseráveis.
Ramos Mejía fica em La Matanza, maior distrito eleitoral da Argentina e reduto do partido peronista (governista), com mais de 1,3 milhão de habitantes. Essa zona foi fundamental para a retumbante vitória eleitoral de Cristina na eleição de 2007.
Mas a presidente sofreu uma dura derrota eleitoral justamente contra um adversário que cultiva a imagem de "linha-dura" contra a criminalidade, Francisco de Narvaez, que em 2009 derrotou o marido dela, o ex-presidente Néstor Kirchner, em eleições legislativas na província de Buenos Aires. Néstor morreu no ano passado, vítima de um infarto.
Mesmo com as recentes medidas, muitos argentinos consideram que o governo de Cristina, socialmente liberal, não está enfrentando a criminalidade como deveria.
"Hoje, ser progressista significa que você tem de permitir ser assaltado, estuprado e morto", disse Constanza Guglielmi, da entidade Segurança Melhor.
Os casos de roubo tiveram uma ligeira alta em 2008, segundo os dados mais recentes do Ministério da Justiça. Analistas dizem, no entanto, que os dados oficiais sobre a criminalidade são pouco confiáveis.
Segundo uma pesquisa divulgada em janeiro pela Universidade Torcuato di Tella, quase um terço dos lares argentinos foram vítimas de algum crime nos 12 meses anteriores às entrevistas.
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