Ditadura persegue ex-militante em novo drama com Denise Fraga
Recorrente no cinema nacional, a ditadura militar (1964-1985) já foi retratada em obras variadas, como no terno "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", no cruel "Batismo de Sangue" e no documental "O Dia que Durou 21 Anos".
"Hoje", que estreou na sexta-feira (19), chega para aumentar essa lista.
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Dirigido por Tata Amaral ("Antônia"), o filme, ambientado em 1998, em São Paulo, é centrado em Vera (Denise Fraga), que vive atormentada por lembranças do período de repressão.
Ex-militante política, ela recebe uma indenização do governo pelo sumiço do marido, Luiz (o uruguaio César Troncoso; leia entrevista abaixo), vítima dos anos de chumbo. Com o dinheiro, compra seu tão sonhado imóvel.
Mas, durante a bagunça da mudança, Luiz, surpreendentemente, volta, deixando a mulher sem rumo.
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ABAIXO, CONFIRA A ENTREVISTA COM O ATOR URUGUAIO CÉSAR TRONCOSO:
sãopaulo - Conhecia a ditadura brasileira?
César Troncoso - Antes do filme, apenas algumas coisas. A ditadura brasileira não é a mais conhecida no Uruguai. Eu sabia que o Brasil tinha participado da Operação Condor e que uruguaios foram sequestrados por militares uruguaios no Brasil com a cumplicidade do regime brasileiro. Durante o filme, entretanto, estudei um material que a Tata [Amaral] me deu e agora sei quem foram Marighella e Herzog, por exemplo.
Seu personagem no filme "Infância Clandestina", também um militante de esquerda, se parece com Luiz?
Não, eles são personagens diferentes e estão em tempos distintos. Agora, as lutas de ambos são as mesmas.
Você está em "Flor do Caribe", da Globo. É muito diferente fazer filme e novela no Brasil?
A diferença mais clara é o ritmo de trabalho, porque em geral as ferramentas são as mesmas. Tem também a questão do tamanho. Às vezes, uma novela da Globo é muito maior do que um filme brasileiro independente. Então, as condições de trabalho mudam.
Pretende continuar vivendo no Rio de Janeiro?
Vou ficar no Rio pelo menos até o fim da novela [prevista para acabar em meados de setembro], que é o tempo que tenho de contrato. Vir para o Brasil foi maravilhoso, mas tenho mulher e filha no Uruguai. Então, elas ficam o tempo todo lá e eu vou e volto. Tenho alguns filmes para estrear aqui [ele tem participações em "Faroeste Caboclo", "A Oeste do Fim do Mundo", "O Tempo e o Vento" e "Muitos Homens num Só"], mas depois disso e da novela eu não sei. É um mistério. Se acontecerem mais coisas [se for chamado para mais trabalhos], aí eu vejo o que faço.
Para dar o passo de trazer minha família para cá, preciso ter muita segurança. Ou deixaria muita coisa para trás para só eu conseguir realizar a minha profissão, por exemplo. Mas aí atrapalho a vida da minha mulher, que é psicóloga, e da minha filha, que tem 14 anos, uma idade complicada para grandes mudanças.