Diretora do Centro de Cultura Judaica fala sobre união e divisão de judeus em SP
Quando tinha sete anos, a uruguaia Yael Steiner, 38, viu os pais, então separados, voltarem a se casar. No hiato entro o primeiro e o segundo matrimônio, seu pai montou uma tecelagem em São Paulo, no bairro do Bom Retiro. Foi então que, a contragosto, ela teve que mudar de país. Chegou de carro e achou tudo aqui escuro, cinza e sufocante. Hoje, apaixonada pelo concreto da cidade, ela é diretora do Centro de Cultura Judaica, na rua Oscar Freire, que comemora dez anos em 2013. Após ser assaltada cinco vezes no trânsito da avenida Sumaré, ela também ajuda a encabeçar o movimento contra a violência Todos Juntos --seu mote para uma cidade ideal.
Peu Robles/Folhapress | ||
Yael Steiner, diretora do Centro de Cultura Judaica |
sãopaulo - Em que bairro você mora?
Yael Steiner - Em Higienópolis, e é lá que vivo desde que cheguei até hoje. Gosto de cumprimentar as pessoas na rua, de conhecer os vizinhos. Isso me lembra Montevidéu.
Como você caracteriza a comunidade judaica paulistana?
É uma comunidade aberta, que convive com facilidade com todos os povos. Mas observo uma divisão entre ashkenazi [judeu da Europa] e o sefardita [cujas famílias vieram do Oriente Médio ou do norte da África]. Eles frequentam sinagogas separadamente e isso é uma pena, pois somos um só povo.
O CCJ comemora dez anos. O que ele representa para a cidade?
Quero que as pessoas sintam-se bem-vindas aqui. Que elas entendam que não somos um centro judaico de cultura, mas sim um centro que quer levar cultura para a grande população. Uma pessoa não vai expor aqui porque ela é judia, mas sim porque tem um trabalho relevante ligado ao nosso povo.
Vocês dialogam com o governo?
Marcamos uma reunião com o secretário de Segurança Pública. Não para pedir, mas para oferecer ajuda. Queremos colaborar, a cidade é nossa.
O que acha das "fortalezas", como muros antibomba e detectores de metais, que envolvem centros e templos judaicos na cidade?
Fica a reflexão sobre muros que nos separam, visíveis ou invisíveis, judaicos ou não judaicos. Ainda não existe a cultura do cidadão paulistano se mimetizar, se apropriar da cidade.
O rabino Henry Sobel admitiu em entrevista recente ao "Estado de S.Paulo" que furtou gravatas por fraqueza de caráter, não por debilidade física. O que achou da declaração?
O Sobel foi um grande líder comunitário que ainda não foi substituído. Defendeu um diálogo que preza efetivamente a coexistência e os direitos humanos. Sempre representou, desde o [Vladimir] Herzog [jornalista morto pela ditadura e a quem Sobel defendeu publicamente] até o episódio da gravata, a comunidade judaica aberta e coexistente. Como pessoa, quem sou eu para julgá-lo? Ele mesmo assumiu o erro. Mas o episódio impactou tanto que infelizmente ele acabou tendo que se afastar.