Fazer cerveja em casa desperta Homer Simpson e Professor Pardal que há em você
Fazer cerveja em casa é uma atividade que desperta o Homer Simpson e o Professor Pardal que há em você.
Seu lado Homer é quem se diverte moendo o malte, formando um areal de pó e casquinhas de cevada num raio de dois metros, respingando o mosto pegajoso pelos azulejos da cozinha, empesteando a casa com o cheiro delicioso e opressivo do lúpulo -é uma felicidade ogra que só se compara à do churrasco.
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Lado Homer é quem se diverte moendo o malte, formando um areal de pó e casquinhas de cevada num raio de dois metros |
Já sua porção Pardal se apraz com a perfeita sanitização do material, a solução de ácido peracético ou o álcool 70% sendo borrifados obsessivamente sobre os instrumentos, as temperaturas exatas medidas no termômetro e cronometradas no relógio, o grau alcoólico calculado pela fórmula "ABV = densidade inicial - densidade final X 131" --é uma felicidade CDF cujo corolário seria, talvez, trabalhar na Nasa ou numa equipe da Fórmula 1.
O mais belo da experiência, contudo, é que, enquanto na maior parte do tempo, nesta vida dura, temos que recalcar o Homer para dar lugar ao Professor Pardal, aqui o cientista está a serviço do pândego.
Após dez horas de trabalho, mais umas três semanas de fermentação, maturação e angustiante espera, o que temos?
Um balde de plástico, de 20 litros, cheio de cerveja e com uma torneirinha na frente, na área de serviço.
E acredite, tendo sido fiel à receita e germânico na sanitização, a qualidade do que você está prestes a engarrafar é muito superior à média das cervejas que se encontram por aí.
(OK, a comparação é favorecida pela média baixíssima do que nos acostumamos a beber no Brasil -não é à toa que a campeã de vendas se vangloria de "descer redondo", ou seja, sem fazer cosquinhas nas papilas gustativas. Mas, mesmo se você pensar nas belgas, alemãs, americanas ou inglesas que pululam nas gôndolas dos supermercados, continuará de cabeça erguida.)
Felizmente, há cada vez mais gente misturando água, cevada, lúpulo e levedura pelas cozinhas do Brasil: muito em breve teremos, em cada boteco de esquina, cervejas que descem hexagonais, espiraladas, dando cambalhotas, imitando folha seca, com samba no pé, sem papas na língua. Homers e Pardais brindarão felizes à saúde de sua união.