'Quero o público que não pergunta preço', diz dono de baladas para meia-idade
Irai Campos, 53, não se lembra de cabeça de quando começou a ser DJ. "Tenho que fazer na calculadora!"
Ele está acostumado a lidar com números grandes: são quase quatro décadas de noite. Hoje, comanda o The History, clube na Vila Olímpia que recebe 800 festeiros, com idade média de 40 anos e pagando até R$ 80 para dançar Bee Gees, Donna Summer e outros sucessos do passado. "Um público com dinheiro e que não pergunta preço", define. E abriu há dois meses a Le Rêve, na rua Augusta, também focada em um público adulto, mas sub-40.
Criado na Casa Verde (zona norte), Irai foi office boy e fez carreto enquanto já trabalhava com música. Aprendeu na prática o que era ser DJ e montou o primeiro curso de discotecagem do país, no qual ensinava a mudar a velocidade de rotação dos vinis para fazer novas músicas. Foi dono de loja e de gravadora antes de descobrir que conseguiria se dedicar só às boates. "É uma boa vida, mas cansa mais do que parece."
O dono das baladas 'para maiores'
sãopaulo - O que o público dos 40 anos para cima quer na balada?
Irai Campos - Rapidez no atendimento é a maior peculiaridade dessa faixa etária. Ninguém tem mais idade para esperar para pagar ou pegar um drinque. Veja o cliente como se fosse você mesmo. É preciso ter bom atendimento. E controle total dos funcionários.
E dá pra ter esse controle?
Não deixo segurança bater [em pessoas] nas minhas casas. Todos estão de chapéu para eu poder localizar. Não deixo fazer o que querem, têm de seguir as minhas regras. Você já viu cliente de porre? Ele vai dizer 'ah, seu meeeerda, não vou pagar'. Tem que ter calma. É o cliente.
Era hora de abrir nova casa?
Não é dos melhores momentos da noite. Teve lei antifumo, o negócio de Santa Maria [o incêndio na boate Kiss, no RS] que deu uma mexida, e as passeatas, que tiraram um pouco o foco disso.
Suas casas começam no vermelho?
Não contrato promoter, eles são vampiros. Trazem mil pessoas para a sua festa, se você paga, mas logo levam para a próxima festa. Quero o meu público. Foi assim com a The History. Era de chorar no começo: nas primeiras semanas, cheguei a ter 50 pessoas na casa. Mas o boca a boca é nossa maior propaganda.
Por que escolheu a rua Augusta para sua segunda casa?
A Augusta é a nova Vila Olímpia. É uma questão de tempo, e de pouco tempo. Está acontecendo lá um boom de casas noturnas e de prédios.
Pensa numa franquia da History?
Sou muito receoso. Cheguei a pensar em montar uma The History carioca. Mas você inaugura casa no Rio, dá tiroteio na porta... Vai que um cara morre lá dentro? Afeta a marca. Dono de casa noturna geralmente fica no camarote com as garotas, copinho na mão. Eu não consigo.
Tem mais planos para o futuro?
Já tô com 53 anos. Se demorar dois anos para a casa dar lucro, terei 55 anos. Quero descansar! Você pode ser o mais rico do cemitério, é claro, mas não quero virar um megaempresário. Minha vida já é dentro dessas casas. Restaurante, raramente um cinema e viajo no começo de janeiro para o exterior, para ver novidades das casas.
O que mudou nestes quase 40 anos em que você discoteca?
Antes não tinha prestígio, o DJ ficava escondido atrás de um armário, nem via a pista. Hoje, fica no centro, virou artista. Vou um pouco contra isso: comecei com uma casa tocando músicas de flashback, sem pretensão. Não dava mais para tocar nas noites uma música eletrônica feita em meia hora no computador.