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13/02/2011 - 09h36

Só love

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BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo

O Dr. House chegou ao fundo do poço. Não poderia ser de outro modo, é o que se há de esperar de um maluco compulsivo sem limites como ele.

Imagino como devam ter sido do balacobaco os anos de residência do mais genial doutor em medicina da televisão. A imagem do Geraldão com uma garrafa na cabeça e várias agulhas enfiadas no bumbum cheirando formol como se fosse lança-perfume vem imediatamente à luz.

Na temporada que começou nesta semana, a sexta, o doutor mais falado desde que Marcus Welby M.D. subiu para nunca mais voltar na garupa daquela moto pilotada pelo James Brolin (que vem a ser marido da Barbra Streisand e pai do Josh Brolin) está em um hospital psiquiátrico tentando se livrar da dependência de Vicodin.

Não sei bem como funciona esse negócio de Vicodin, chego apenas até a informação de que se trata de um analgésico contra a dor. Lá nos States parece que eles têm mania de adquirir dependência de uns tipos de droga que o resto do mundo desconhece.

Como a metilanfetamina, que eles chamam de "speed" ou de "meth", e que deixa quem usa com cara de "white trash" condenado a esperar anos no corredor da morte. Ou o "free basin", que vira e mexe manda alguém pelos ares como se tivesse explodido algum bujão de gás.

Coisa tão americana quanto cultuar carros e armas turbinadas é experimentar drogas de alta potência. Vira e mexe a gente ouve contar que um ator de "Friends" ou de "Glee" ou de "Gossip Girl" foi internado porque se viciou em remédio contra dor.

Aqui na terrinha, no máximo, o cara quebrou o peito fumando Vila Rica, né não? Tome a mim como exemplo. Durante anos fui dependente pesada de pastilhas Garoto. O pior é que não estou brincando. Quando estudei fora, minha mãe comprava caixas de pastilhas na mercearia da japonesa da rua Joaquim Floriano, no Itaim Bibi, e mandava para mim pelo correio.
Depois, quando fui trabalhar em redação, era capaz de comer uma caixa de pastilhas em coisa de um ou dois dias. Note que são 49 embalagens por caixa.

Minha compulsão só chegou a bom termo quando a Nestlé comprou a Garoto, modificou a receita das fantásticas pastilhas, criou uma balinha horrorosa e acabou com a minha festa. Hoje, sou uma mulher mudada. Nunca mais chupei pastilhas nem sei se ainda existem no mercado.

Nesta semana, li um texto em que o autor, um fumante compulsivo, chega ao seu hotel preferido em Londres e é informado de que não poderá mais fumar no quarto (caríssimo) em que está acostumado a pernoitar. O sujeito passa coisa de uns oito parágrafos praguejando contra quem possui pulmões imaculados. Se não me engano, chega a dizer ao concierge que, fossem estes os tempos de Hemingway, ele estaria arriscado a tomar um tiro no peito.

Quem você conhece que ainda confrontaria o coitado do garçom ou a recepcionista para reclamar seus diretos de tabagista? Alô, século passado! Saia do sol e volte para o interior da caverna! Nós perdemos, ora bolas! Para que estender o assunto? Aliás, "nós", vírgula, já que eu cedi à bárbara insistência do dr. Drauzio Varella e parei de fumar há quase um ano.

Unha deixei de roer faz tempo, agora, sabotadora que sou, só corda. E uísque já não bebo há tantos anos que nem me lembro mais se o nome do sujeito era Johnny ou Jeffrey Walker. Resumindo, daquele espelho do dr. House que eu era, só sobrou o mau humor.

Em matéria de compulsão, fica faltando só eliminar a parte do chocolate. Ou melhor, o chocolate e os picolés de limão, que ando comendo aos baldes. Feito isto, pretendo simplesmente sobreviver de amor. Ao contrário da impressão generalizada, viver de amor enche barriga, sim. E como.

 

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