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Filme viaja nas drogas sintéticas da geração 2000
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ANTONIA PELLEGRINO
DO RIO
A história padronizada chamava a atenção nos anos 2000. Jovens de classe média que experimentavam ecstasy piravam, passavam a tomar dez, 20 "balas" por final de semana. Depois, só em evento, mas terça-feira era dia de evento, assim como quarta e quinta e sábado, e domingo tinha micareta.
Nas terríveis terças, a carteira magra, o dinheiro escasso. Mas, à noite, já tinha evento, então por que não fazer uma graninha repassando para os amigos? Daí à mula, por que não? No fim dessa história, algemas gélidas apertavam os punhos de meninos bem-nascidos em aeroportos internacionais.
A cena recorrente chamou a atenção do jovem ator Bernardo Melo Barreto, que comentou com o fotógrafo e documentarista Marcos Prado, que foi aos jornais dizer que o tema era dele e ninguém tascava. Sócio do cineasta José Padilha e produtor de "Tropa de Elite" 1 e 2, Marcos procurava um assunto que rendesse um longa.
Pai de um adolescente, à época com 15 anos, Marcos ouvira falar em peiote e mescalina sintética. Se a loucura de geração dele havia sido a cocaína, os baratos da geração de seu filho eram outros: sintéticos, feitos em laboratório, cujas consequências do uso prolongado ainda são desconhecidas.
Adriana Komura | ||
Batida da música potencializa efeito de drogas sintéticas, afirma o cineasta |
Aos 45 anos, o carioca passou a frequentar raves no Brasil e no exterior, como pesquisador de campo, dividido entre a experiência e a observação da experiência. Numa tenda trance, cruzou com outro carioca, Zuenir Ventura, também interessado em decifrar a geração 2000, mas que, durante uma das tantas madrugadas prolongadas ao som do bate-estaca mântrico, pediu o boné --deixando boa parte de seus contatos para Marcos.
Policiais, psiquiatras e filhos de diplomatas que traziam as drogas na mala dos pais. A polpuda agenda do jornalista abriu mais um portal nessa nova dimensão.
E o cineasta tirou suas próprias conclusões: "o jovem hoje vive numa insegurança tão grande, diante de tantas escolhas possíveis, que essa angústia o lança intensamente no presente. E as drogas sintéticas reforçam a experiência do presente. Elas são muito sensoriais e, com a batida repetitiva da música, o agora fica hiperpotencializado".
Para transpor a sensação para as telas, o diretor não fez câmera doida, mas trabalhou formas de intensificar o que vemos. "Os primeiros 30 minutos prendem por motivos sinestésicos." É filme para fumar um antes de ir ao cinema? Entre risos, ele responde que é o ideal.
Na época do lançamento de "Tropa de Elite", um dos principais temas de discussão foi a importância do usuário de classe média, mostrado no filme como parte fundamental do esquema do tráfico, pois, sem ele, não haveria consumo. "Paraísos Artificiais", segundo o diretor, não pretende fazer apologia ou moralizar o uso das drogas, mas deseja, como muitos brasileiros, discutir de maneira franca o uso de drogas no país.
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