Lado B de Aspen vai de museu gonzo a roteiro assombrado
Aspen é mundialmente conhecida pela badalação, mas dispõe de programas que estão bem longe disso e são, no mínimo, curiosos. Um deles é o Gonzo Museum. Conta com coleção que inclui pôsteres do ativista político Thomas W. Benton e manuscritos de Hunter S. Thompson, pai do jornalismo Gonzo - gênero que subverte o objetivismo do jornalismo tradicional e é narrado em primeira pessoa.
Thompson foi um dos ilustres moradores de Aspen. Sua relação com a cidade começou na década de 70 quando escreveu um artigo para a revista "Rolling Stone" sobre como quase foi eleito a xerife com propostas inusitadas - descriminalização do uso de drogas e a transformação das ruas em ciclovias. Pouco depois mudou-se para lá, mais precisamente para a comunidade de Woody Creek.
O termo "Gonzo" vem do apelido dado por ele a um personagem de seu livro "Medo e Delírio em Las Vegas", inspirado em um advogado mexicano, e ganhou significado de excêntrico. A obra virou filme em 1998. Detalhe: Johnny Depp interpretou o alter ego do escritor em dois longas (o outro é "Diário de um Jornalista Bêbado", 2012). Amigo de Thompson, realizou seu último desejo: lançou suas cinzas no ar, por meio de um canhão, ao som de Bob Dylan. O jornalista se matou em 2005 com um tiro na cabeça.
Vale a pena visitar o restaurante frequentado pelo escritor, o Woody Creek Tavern, não apenas pelo valor histórico, mas também pela atmosfera genuinamente americana. Com uma decoração superlativa - fotos, pôsteres, camisetas, luzes coloridas, tudo sobreposto nas paredes -, o local tem clima de restaurante de beira de estrada, com rock anos 80 e pratos sem frescura. A propósito, Thompson e Depp se conheceram ali.
Outro lugar cujo charme foge dos padrões de glamorização é o Aspen Brewing Company, que produz cervejas artesanais. Fundada por ex-roommates da Universidade do Colorado apaixonados por esqui e cerveja, a microcervejaria possui um bar e oferece degustação a partir do meio dia. A cerveja mais famosa, Ajax Pisler, menos amarga e com teor alcoólico abaixo da média, foi elaborada para ser consumida no aprés-ski (happy hour dos esquiadores). Um pint (473 ml) de qualquer cerveja custa US$ 4,75.
Mais do que lugares alternativos, há um roteiro que explora o "lado negro" da cidade. The Darkside's Aspen Tour é uma divertida e assustadora caminhada de uma hora liderada por Dean Weiler, um hábil contador de histórias vestido de fraque que mostra lugares envolvidos em lendas, crimes e mistérios. As histórias vão desde os bastidores dos combates entre índios e mineradores de prata, no século 19, até as chaves perdidas que permitiram a fuga de um dos mais terríveis serial killers dos EUA, nos anos 70. Edifícios habitados por fantasmas não ficam de fora. O passeio é realizado aos sábados, às 19h (US$ 20 por pessoa). Também é possível agendar horário para grupos fechados.
Um programa que, em princípio, soa previsível, mas que pode ser surpreendente é o passeio de trenó com cachorros no rancho Krabloonik. Pela preparação - é preciso assinar um termo de responsabilidade de danos físicos e assistir a um vídeo que mostra um trenó virando e pessoas sendo arremessadas contra a neve - parece mais perigoso que encarar uma double black (pista avançadíssima).
Os primeiros 15 minutos do passeio confirmam a suspeita. Os dez cães huskies do Alasca (e não siberianos) correm desenfreadamente levando o trenó ladeira abaixo. O caminho é sinuoso e estreito, mas logo se alcança uma área plana e, na parada para fotos, os animais de carga se tornam bichos de estimação. Brincam e viram a barriga para os turistas. Uma boa oportunidade para conhecer uma atração tradicional de neve e ainda almoçar ao som dos uivos - os 250 cães do rancho uivam feito lobos - em um dos melhores restaurantes de Aspen, escondido ali (DEBORAH GIANNINI).
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