Descrição de chapéu pantanal

Série do Pantanal em cinzas de Lalo de Almeida para a Folha vence maior prêmio de fotografia do mundo

World Press Photo anunciou nesta quinta (15) nomes dos fotógrafos vencedores da edição de 2021

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Gonçalves (MG)

O fotógrafo da Folha Lalo de Almeida venceu a categoria Meio Ambiente do World Press Photo, a mais prestigiosa premiação de fotojornalismo do mundo. Os fotógrafos premiados, de 28 países, foram anunciados nesta quinta-feira (15) pela instituição que promove o concurso.

A série premiada de fotografias de Lalo, que ao longo de meses em 2020 cobriu a destruição do Pantanal provocada pelo fogo ao lado do repórter Fabiano Maisonnave, ganha força com o retrato de um bugio ajoelhado e carbonizado no meio de uma mata devastada.

O registro do macaco morto impressiona pela semelhança com a figura humana e pela dificuldade em distinguir a diferença entre o corpo do animal e o cenário em volta dele, também carbonizado.

O fogo se alastrou pela vegetação seca e devastou cerca de 20% da biodiversidade do bioma, que ainda está em processo de recuperação. Investigações da Polícia Federal mostraram que os incêndios foram provocados por pecuaristas para abrir novas áreas de pastagem para o gado, uma pressão que vem atingindo o bioma há décadas.

Segundo Pilar Olivares, jurada e fotógrafa da Reuters, a série de dez fotos de Lalo “é a história dos incêndios que mais me impactou”, disse. “Cada foto nos mostra uma situação triste de devastação sem perder o sentido estético”.

Além de perfeitamente editada, a jurada afirmou que ao analisar o trabalho de Lalo “não sinto que preciso ver mais e também não sinto que estou vendo muito”.

Quando soube que era um dos finalistas, em 10 de março, Lalo afirmou em suas redes sociais que além da satisfação pessoal, “o prêmio ajuda a colocar luz sobre a importância da preservação do bioma”.

Após participar da cerimônia online de premiação nesta quinta, o fotógrafo contou que esteve no Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul por quatro vezes para cobrir a tragédia ambiental.

Já na primeira viagem, ficou espantado com o tamanho do incêndio. “O hotel usado como base pelos bombeiros foi cercado por uma coluna de fogo e precisou ser esvaziado rapidamente”, disse.

Lalo também disse que a imprensa nacional demorou a entender o que estava acontecendo no bioma localizado no Centro-Oeste do Brasil, um refúgio para onças-pintadas e araras-azuis. “A Amazônia sempre chama mais atenção do que os outros biomas. Acho que, por isso, o fogo no Pantanal demorou para entrar nas prioridades de cobertura”.

A comoção diante da devastação do bioma ganhou outra temperatura quando fotos dos animais mortos estamparam as primeiras páginas dos jornais, como as desta Folha, disse Lalo. “A partir daí, eu percebi que a sociedade civil organizada, as instituições e o próprio governo começaram a agir”, afirmou.

Por onde passavam, Lalo e Maisonnave só viam o rastro de destruição deixado pelo fogo que impediu o voo das aves, a fuga de sucuris, antas e cervos e do próprio gado nas fazendas em busca de abrigo.

“Fomos vendo muitos bichos morrendo na nossa frente. O gado das fazendas que tinham as patas queimadas não conseguiam ficar em pé e morriam um atrás do outro”, afirmou.

O registro do bugio carbonizado foi feito numa fazenda da região da Serra do Amolar, no Pantanal de Mato Grosso do Sul. A chegada do fogo no local causava um barulho, segundo Lalo, semelhante ao de uma turbina de avião. “A gente foi ver o que sobrou e encontramos a família de bugios totalmente queimada”.

“O impacto foi grande porque aqueles bichos pareciam crianças carbonizadas. Foi uma cobertura que exigiu muito emocional da gente”, disse. Para Lalo, a série deixa um recado: "ela mostra ao mundo como tem sido a condução da política ambiental no Brasil no atual governo".

Lalo colabora com a Folha há 27 anos. Em 2017, o fotógrafo ficou em segundo lugar no World Press Photo na categoria de assuntos contemporâneos com uma série sobre famílias afetadas pelo zika vírus.

Ainda que Lalo seja o único brasileiro na edição deste ano, o Brasil está presente entre os ganhadores. Mads Nissen, dinamarquês vencedor do World Press Photo pelo retrato do casal gay em 2015, fotografou no país a crise da Covid-19. O registro levou o primeiro lugar da categoria “Notícias Gerais”.

A imagem mostra o primeiro abraço de uma idosa em cinco meses. Rosa Luzia Lunardi, 85, aparece de costas, em São Paulo, abraçando uma enfermeira e enrolada em um plástico que acaba assumindo um formato parecido ao de asas de anjo.

Entre os vencedores, há uma foto de conflito —a disputa entre azeris e armênios por Nagorno Karabakh—, e o registro da tragédia em Beirute, onde uma explosão na zona portuária da capital libanesa deixou centenas de mortos.


VEJA A LISTA COMPLETA DOS GANHADORES, POR CATEGORIA

Questões contemporâneas

1º lugar
Yemen: Hunger, Another War Wound, por Pablo Tosco, Argentina

2º lugar
Doctor Peyo and Mister Hassen, por Jérémy Lempin, França

3º lugar
Resting Soldier, por Vaghinak Ghazaryan, Armênia

Questões contemporâneas – histórias

1º lugar
Sakhawood, por Alexey Vasilyev, Rússia

2º lugar
Islamic State’s Yazidi Survivors, por Maya Alleruzzo, Estados Unidos, Associated Press

3º lugar
The Aftermath of the North East Delhi Riots, por Zishaan A Latif, Índia

Meio Ambiente

1º lugar
California Sea Lion Plays with Mask, por Ralph Pace, Estados Unidos

2º lugar
Temple and Half-Mountain, por Hkun Lat, Mianmar

3º lugar
Climate Crisis Solutions: Collecting Drinking Water in Kalabogi, por K M Asad, Bangladesh

Meio Ambiente – histórias

1º lugar
Pantanal Ablaze, por Lalo de Almeida, Brasil, Panos Pictures, para Folha de S.Paulo

2º lugar
One Way to Fight Climate Change: Make Your Own Glaciers, por Ciril Jazbec, Slovenia, para National Geographic

3º lugar
Inside the Spanish Pork Industry: The Pig Factory of Europe, por Aitor Garmendia, Espanha

Notícias Gerais

1º lugar
The First Embrace, por Mads Nissen, Denmark, Politiken/Panos Pictures

2º lugar
The Human Cost of COVID-19, por Joshua Irwandi, Indonésia

3º lugar
Ceremony to Mourn Qasem Soleimani in Tehran, por Newsha Tavakolian, Iran, Magnum Photos

Notícias Gerais -histórias

1º lugar
Paradise Lost, por Valery Melnikov, Rússia, Sputnik

2º lugar
Cross-Border Love, por Roland Schmid, Suíça

3º lugar
COVID-19 Pandemic in France, por Laurence Geai, França

Projetos de Longo Prazo

1º lugar
Habibi, por Antonio Faccilongo, Itália, Getty Reportage

2º lugar
Reborn, por Karolina Jonderko, Polônia

3º lugar
Trapped in Greece, por Angelos Tzortzinis, Grécia, partially funded para o Magnum Foundation

Natureza

1º lugar
Rescue of Giraffes from Flooding Island, de Ami Vitale, United States, para CNN

2º lugar
Path of the Panther, por
Carlton Ward Jr., Estados Unidos

3º lugar
New Life, de Jaime Culebras, Espanha

Natureza – histórias

1º lugar
Pandemic Pigeons—A Love Story, de Jasper Doest, Países Baixos

2º lugar
Taal Volcano Eruption, de Ezra Acayan, Filipinas, para Getty Images

3º lugar
Locust Invasion in East Africa, de Luis Tato, Espanha

Retratos

1º lugar
The Transition: Ignat, de Oleg Ponomarev, Rússia

2º lugar
COVID-19 First Responder, de Iván Macías, México

3º lugar
In Flight, de Tatiana Nikitina, Rússia

Retratos – histórias

1º lugar
The ‘Ameriguns’ de Gabriele Galimberti, Itália, para National Geographic

2º lugar
Nowhere Near, de Alisa Martynova, Rússia

3º lugar
Niewybuch, de Natalia Kepesz, Polônia

Esportes

1º lugar
Log Pile Bouldering, de Adam Pretty, Austrália, Getty Images

2º lugar
Home Training, de Stephen McCarthy, Irlanda, Sportsfile

3º lugar
Tour of Poland Cycling Crash, de Tomasz Markowski, Polônia

Esportes - histórias

1º lugar
Those Who Stay Will Be Champions, de Chris Donovan, Canadá

2º lugar
Faces of Bridge, de Henrik Hansson, Suécia

3º lugar
Thoughts of Flight, de Fereshteh Eslahi, Irã, Podium Photos

Spot News

1º lugar
Emancipation Memorial Debate, de Evelyn Hockstein, Estados Unidos, para The Washington Post

2º lugar
Waiting for Release at a Temporary Detention Center in Belarus, de Nadia Buzhan, Bielorrúsia

3º lugar
Forest Fire, de Nuno André Ferreira, Portugal, Agência Lusa

Spot News – histórias

1º lugar
Port Explosion in Beirut, de Lorenzo Tugnoli, Itália, Contrasto

2º lugar
Presidential Vacancy, de Ernesto Benavides, Peru, Agence France-Presse

3º lugar
Minneapolis Unrest: The George Floyd Aftermath, de John Minchillo, Estados Unidos, Associated Press

NARRATIVA DIGITAL

INTERATIVO

Outstanding Instructive Interactive
Birth in the 21st Century, de Barret Cooperativa/Lab RTVE/À Punt Mèdia

Outstanding Archival Investigation
Reconstructing Seven Days of Protests in Minneapolis After George Floyd’s Death, de Holly Bailey/The Washington Post and Matt Daniels, Amelia Wattenberger/The Pudding

Outstanding Immersive Storytelling
Ukraine: Grey Zone, de Benas Gerdziunas/Lithuanian Radio and Television (LRT)

Longas Produções

1º lugar
Calling Back From Wuhan, de Yang Shenlai/Tang Xiaolan

2º lugar
To Calm the Pig Inside (Ang Pagpakalma sa Unos) de Old Fool Films

3º lugar
Blood Rider, de Jon Kasbe/The New Yorker

Curtas

1º lugar
A Racist Attack Was Caught on Camera. Nearly 45 Years Later, It Still Stings, por The New York Times


2º lugar
The Eternity of Tomorrow, de Cristóbal Olivares/Magnum Foundation

3º lugar
Good Morning, My Wife in Heaven (天堂里的邓顺芝,早上好), por Yingfei Liang/Shumin Wei/Caixin

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