Descrição de chapéu América Latina

Nova espécie de jiboia-anã é descoberta na Amazônia equatoriana

Com aproximadamente 30 cm, cobra difere da espécie irmã encontrada no outro lado dos Andes

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São Paulo

No início deste ano, uma nova espécie de serpente foi descoberta para a floresta Amazônica equatoriana.

Batizada de Tropidophis cacuangoae (o nome da espécie homenageia uma liderança indígena local, Dolores Cacuango, que defendeu a causa feminina e de direitos humanos no Equador), o animal faz parte de um grupo conhecido popularmente como jiboia-anã.

O achado representa a segunda espécie encontrada para a região amazônica do Equador e a quinta na região continental da América do Sul —todas as outras espécies do gênero ocorrem nas ilhas das Índias Ocidentais (área conhecida como as Antilhas incluindo as Bahamas).

A nova espécie de jiboia-anã (Tropidophis cacuangoae), descoberta na floresta amazônica do Equador
A nova espécie de jiboia-anã (Tropidophis cacuangoae), descoberta na floresta amazônica do Equador - Danilo Medina

A descoberta foi publicada na revista especializada European Journal of Taxonomy com a colaboração de pesquisadores do Equador, da Alemanha e do Brasil.

De acordo com o biólogo Omar Entiauspe-Neto, mestrando da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e um dos autores do estudo, a cobra foi encontrada na Reserva Biológica Colonso Chalupas, próximo ao município de San Juan de Muyuna, na província de Napo (a cerca de 230 km de Quito). Um segundo exemplar estava presente na coleção do Instituto Nacional de Biodiversidade (Inabio), do Equador.

"Quando vimos a serpente, já tínhamos quase 100% certeza que se tratava de uma espécie nova pelas suas características morfológicas, mas para assegurar foi importante ter um segundo exemplar para comparar com outras e determinar as diferenças morfológicas e moleculares dela", disse.

Com coloração predominantemente marrom claro com manchas escuras, a serpente tem aproximadamente 30 centímetros da ponta do focinho até a cauda e pode ser diferenciada das demais espécies do gênero pela maior fileira de dentes na boca (18 a 21 dentes no maxilar) e a presença de duas vértebras cervicais (versus três ou mais).

Uma análise genética incluindo outras seis espécies e mais 18 serpentes que não têm relação com a nova espécie ajudou a demonstrar que T. cacuangoae é uma espécie única.

Segundo Neto, como não era conhecida nenhuma outra cobra do gênero Tropidophis no lado amazônico dos Andes (a espécie-irmã T. taczanowsky vive na costa oeste dos Andes) é provável que o evento de diferenciação das espécies ocorreu há pelo menos 15 milhões de anos, quando os Andes apresentavam cerca de um terço da sua elevação atual.

"Não temos registros de serpentes do gênero Tropidophis escalando árvores, no máximo arbustos ou árvores baixas, então é bem provável que T. cacuangoae se separou da outra durante o soerguimento dos Andes. Ela também está distante mais de 4.000 km das outras espécies continentais do grupo, o que indica também que a evolução dos biomas sul-americanos, especialmente a diagonal seca [que criou os biomas do cerrado e da caatinga], contribuíram para a diversificação do grupo", explica Neto.

Consideradas como primitivas na história evolutiva das serpentes, os membros da família Tropidophiidae (que inclui ainda o gênero Trachyboa) podem ser considerados um grupo relictual, isto é, que manteve características semelhantes às dos ancestrais que deram origem às outras espécies de serpentes nos últimos 50 milhões de anos.

Uma característica chama a atenção desses animais: assim como outros grupos mais primitivos de serpentes, o gênero Tropidophis apresenta restos de bacia pélvica (os ossos que formam a bacia) e membros vestigiais.

Assim como as jiboias, as jiboias-anãs não possuem veneno e se alimentam de presas inteiras, como pequenos lagartos, camundongos e ovos de pássaros. A diferença é que os boídeos (grupo que inclui as jiboias e sucuris) têm algumas das maiores serpentes vivas atualmente, podendo chegar a mais de 10 metros de comprimento e até 300 kg.

Segundo Neto, como só foram descritas até hoje duas espécies amazônicas, é provável que tanto T. cacuangoae quanto T. taczanowsky estejam ameaçadas no futuro. Se for confirmado que elas estão restritas a essas duas localidades da Amazônia no Equador, definitivamente elas estão colocadas sob maior risco no futuro de extinção.

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