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Ondas de calor na Europa e América do Norte seriam impossíveis sem mudança climática, aponta estudo

Pesquisadores do grupo World Weather Attribution preveem eventos climáticos extremos mais frequentes

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Camilla Hodgson
Financial Times

As ondas de calor que atingiram a América do Norte e a Europa em julho teriam sido "virtualmente impossíveis sem a mudança climática", disseram pesquisadores, destacando que eventos climáticos extremos devem tornar-se mais frequentes.

O grupo de pesquisas WWA (World Weather Attribution), uma colaboração entre acadêmicos, acrescentou que o aquecimento induzido pelos humanos tornou o recente calor extremo na China "pelo menos 50 vezes mais provável".

Eventos como as temperaturas simultâneas e recordes vistas em julho agora podem ser previstos aproximadamente "a cada 15 anos na América do Norte, a cada dez anos no sul da Europa e mais ou menos a cada cinco anos na China", disse o WWA em relatório nesta terça-feira (25).

Dois homens, de costas, olham para área pegando fogo
Bombeiro e morador observam incêndio florestal perto de Nea Peramos, na Grécia; calor extremo agrava queimadas na Europa - Louisa Gouliamaki - 19.jul.2023/AFP

O grupo descobriu que a mudança climática tornou mais prováveis ou mais graves 75% dos eventos climáticos extremos que ele avaliou recentemente.

Se o mundo se aquecer em 2°C acima dos níveis pré-industriais, "eventos como as ondas de calor recentes se tornarão ainda mais frequentes, ocorrendo a cada dois a cinco anos", disse a equipe de seis pesquisadores do Reino Unido e da Holanda.

Com o Acordo de Paris, os países signatários se comprometeram a se esforçar para limitar o aquecimento mundial para no máximo 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Mas o mundo já se aqueceu pelo menos 1,1°C, e com as promessas climáticas atuais, segundo a ONU, a temperatura deve subir para entre 2,4°C e 2,6°C a mais até 2100.

"O resultado deste estudo de atribuição não surpreende", disse Friederike Otto, professora sênior de ciência climática no Instituto Grantham para a Mudança Climática e o Ambiente e autora do relatório. "O mundo não parou de queimar combustíveis fósseis, o clima continua a se aquecer e as ondas de calor continuam a ficar mais extremas."

Cientistas não deixam margem a dúvidas de que os eventos climáticos extremos, incluindo ondas de calor, vão se tornar mais frequentes e intensos a cada fração de 1°C de aquecimento adicional.

O WWA, que avalia o impacto da mudança climática sobre desastres ligados ao clima, incluindo enchentes, incêndios e ondas de calor, constatou em 38 de seus 52 estudos que os eventos foram agravados ou tiveram sua probabilidade aumentada pelo aquecimento do planeta.

Após o mês de junho mais quente já registrado no mundo, grandes áreas dos EUA, México, Europa e China sofreram calor extremo em julho. A OMM (Organização Meteorológica Mundial) disse que os dados preliminares indicam que o início de julho foi "a semana mais quente já registrada no mundo".

A temperatura passou de 50°C no Vale da Morte, na Califórnia, e o calor bateu recordes também em partes da China e da Europa. Mortes relacionadas ao calor foram notificadas em países que incluem os EUA, Itália e México, e incêndios se alastraram em partes da Grécia, levando à evacuação de turistas de algumas ilhas, como Corfu e Rodes.

O WWA disse que as ondas de calor já deixaram de ser raras, mas que sem o aquecimento antropogênico, ou produzido pelo homem, elas seriam "extremamente raras".

As ondas de calor recentes foram 2,5°C mais quentes no sul da Europa do que teriam sido sem a mudança climática, 2°C mais quentes na América do Norte e 1°C mais quentes na China, segundo o WWA.

"A não ser que o mundo deixe de queimar combustíveis fósseis em pouco tempo, esses eventos vão se tornar ainda mais comuns, e o mundo vai passar por ondas de calor ainda mais quentes e de mais longa duração", disseram os pesquisadores.

Os cientistas analisaram dados e simulações de modelos computadorizados para comparar o clima atual com os padrões climáticos passados.

Eles analisaram as temperaturas médias máximas ao longo de sete dias no sul da Europa, ao longo de 18 dias no oeste dos EUA, Texas e norte do México, e ao longo de 14 dias nas planícies da China, quando o calor chegou aos níveis mais perigosos em cada região.

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