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Al Gore critica 'captura' da agenda climática da ONU pela indústria de combustíveis fósseis

Ex-vice-presidente dos EUA pede revisão do processo da COP para abolir o veto por um único país

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Londres | Financial Times

O ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ativista climático Al Gore criticou a "captura" das negociações globais da ONU sobre as mudanças climáticas pela indústria dos combustíveis fósseis "em um grau perturbador".

Ele disse que é "hora de abandonarmos a suposição enganosa" de que as empresas de petróleo e gás e os petroestados são "participantes de boa-fé" no processo da ONU que culmina numa reunião de cúpula a ser realizada nos Emirados Árabes Unidos este ano, a COP28.

A maior parte do setor queria "bloquear, atrasar e impedir qualquer coisa que pudesse reduzir a venda e a queima de combustíveis fósseis", acrescentou Gore.

Al Gore gesticula enquanto fala, com expressão séria
Al Gore, vice-presidente dos EUA, em discurso em evento em Washington em maio - Kevin Lamarque - 8.mai.2023/Reuters

"Simplesmente não é realista acreditar que eles vão assumir a liderança na resolução desta crise", disse ele, antecipando-se a um novo relatório sobre investimento sustentável da Generation Investment Management, da qual é cofundador e presidente.

"Eles capturaram o processo da ONU em um nível perturbador, chegando a colocar o CEO de uma das maiores empresas petrolíferas do mundo como presidente da COP28", disse ele, referindo-se à nomeação de Sultan al-Jaber, executivo-chefe da Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi, como presidente designado da COP28.

A opinião de Gore contrasta com a do enviado climático dos EUA, John Kerry, que apoiou a participação de executivos da indústria na cúpula climática COP28, em Dubai, no final deste ano, como necessária para efetuar mudanças.

Kerry disse recentemente que estava apelando aos executivos dos grandes atores no setor de energia, como principais contribuintes para as alterações climáticas, a participarem da COP28 com planos concretos para combater as emissões de gases do efeito estufa.

Mas Gore observou que na anterior COP27, no Egito, o número de delegados da indústria de combustíveis fósseis foi superior ao de delegados dos dez países mais afetados pelo clima.

Ele disse que é necessária uma reforma do processo de negociações climáticas da ONU, argumentando que o atual sistema que permite que um único país vete uma proposta, mesmo que a maioria apoie a ação, está dificultando o progresso global.

"É um tanto absurdo que o mundo tenha que pedir permissão à Arábia Saudita para falar sobre soluções para a crise climática", disse ele.

No entanto, Gore, que ganhou um Oscar e um Prêmio Nobel da Paz por seu filme de 2006, "Uma Verdade Inconveniente", sobre o aquecimento global, estava otimista quanto ao fato de o mundo ter "finalmente" chegado a um "ponto de inflexão político", quando certos países estavam dando "passos significativos à frente" para resolver a crise climática.

Isto incluiu a ação climática histórica de US$ 369 bilhões dos EUA por meio da Lei de Redução da Inflação, o Acordo Verde da União Europeia e seu planejado imposto sobre o carbono, bem como mudanças na liderança política em países retardatários como a Austrália e o Brasil.

Gore disse que tinha "cicatrizes" da reação política contra os impostos sobre o carbono, que visam atribuir um custo às emissões, depois que os esforços para se adotar um tipo de imposto sobre o carbono durante o governo de Bill Clinton foram rejeitados.

"Desde aquela época, pelo menos nos EUA, é considerado impossível aprovar um. No entanto, algumas coisas estão mudando", disse ele. A implementação do mecanismo de ajuste das fronteiras de carbono na Europa a partir do próximo mês, que impõe uma taxa de carbono sobre as importações com utilização intensiva de carbono, foi um "sinal muito esperançoso", afirmou.

"Penso que é provável que se espalhe e possa eventualmente ser uma forma de, finalmente ter uma abordagem de precificação do carbono mais global", disse.

O relatório da Generation prevê que em apenas "alguns anos" a energia eólica e solar começarão a suprir toda a nova demanda de energia, com o aumento da implantação de bombas de calor e um grande aumento nas vendas de veículos elétricos.

"Estou mais otimista do que nunca", disse Gore. "Mas com a ressalva de que ainda estou bastante consciente da dificuldade dos desafios que restam."

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