Mais de 3 milhões de americanos já são migrantes climáticos, dizem pesquisadores

Novo estudo mostra que população foge de bairros sujeitos a inundações

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Leslie Kaufman
Bloomberg

Nas últimas duas décadas, quando San Antonio e os arredores do condado de Bexar, no Texas, aumentaram em mais de 600 mil habitantes, cerca de 17% dos quarteirões da cidade experimentaram uma diminuição na população.

Essa discrepância é, em grande parte, devida ao risco de enchentes que as mudanças climáticas exacerbam, de acordo com um novo relatório da First Street Foundation, uma organização sem fins lucrativos voltada a dados com a missão de comunicar os perigos climáticos.

Bexar, situado em uma faixa do Texas conhecida como Flash Flood Alley, faz parte de uma tendência nacional de migração hiperlocal para fugir de inundações, o que vem esvaziando quadras das cidades, conforme constatado no relatório.

A pesquisa é baseada em um modelo, publicado na segunda-feira (18) na revista Nature Communications, que examina as mudanças na população usando dados detalhados do Censo dos EUA e controla fatores além das inundações, como oportunidades de emprego próximas e a qualidade escolar.

No total, a First Street descobriu que 3,2 milhões de americanos se mudaram de áreas com alto risco de inundação de 2000 a 2020. No entanto, a extensão completa da migração ficou oculta, pois a maioria das pessoas não se mudou para longe.

Pessoas caminham em rua alagada; um do homens leva uma criança no colo
Moradores deixam casas durante inundação causada pelo furação Harvey em Houston, no Texas, em 2017 - Mark Ralston - 29.ago.2017/AFP

"Parece haver vencedores e perdedores claros em relação ao impacto do risco de inundação na mudança populacional no nível dos bairros", disse Jeremy Porter, chefe de pesquisa de implicações climáticas na First Street, em comunicado. "As implicações disso são enormes e afetam os valores das propriedades, a composição do bairro e a viabilidade comercial, tanto de forma positiva quanto negativa."

A análise também extrapola essas tendências para daqui a 30 anos, prevendo que áreas vulneráveis continuarão perdendo população.

Nos EUA, a frequência de desastres que causam pelo menos US$ 1 bilhão em danos aumentou de cerca de três por ano, durante a década de 1980, para uma média anual de 17,8 no período de 2018 a 2022, de acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica.

O aquecimento global tem efeitos cascata que exacerbam especialmente as inundações, incluindo a elevação do nível do mar, furacões mais ferozes e pancadas de chuva mais frequentes e prolongadas.

Não é segredo que a migração climática está em andamento, seja ao longo da Costa do Golfo, que está perdendo um campo de futebol a cada cem minutos, ou na Califórnia, onde cidades inteiras foram forçadas à diáspora por incêndios florestais. No entanto, quantificar o impacto das mudanças climáticas na migração até o nível do bairro é algo que nunca tinha sido feito em uma escala nacional.

A First Street concentrou-se exclusivamente em inundações, já que as inundações são o desastre mais comum relacionado ao clima.

Os pesquisadores criaram um modelo que analisa a mudança populacional até a menor unidade geográfica usada pelo Censo dos EUA, o quarteirão. Eles sobrepuseram essas informações com dados históricos de inundações. Em seguida, tentaram isolar a influência das inundações na migração em comparação com outros fatores sociais e econômicos comumente associados às mudanças, como escolas excelentes ou precárias.

Eles descobriram que, quando entre 5% e 10% das propriedades em um quarteirão do Censo estão em risco de inundação, há um ponto de virada, e as pessoas começam a se mudar mesmo que haja outros fatores atrativos, como uma vista para a costa.

Em alguns casos, esse movimento é suficiente para deixar áreas anteriormente prósperas em declínio. Em muitos outros casos, é apenas o suficiente para desacelerar um crescimento que seria, de outra forma, acelerado. Analisando em profundidade o condado de Bexar, a First Street descobriu que bairros com menor risco de inundação cresceram muito mais rápido do que aqueles com risco mais alto.

É claro que as motivações das pessoas para se mudar podem ser complicadas. Kristina Dahl, cientista climática principal do programa de clima e energia da ONG Union of Concerned Scientists, disse que, embora não tenha visto falhas no modelo da First Street, suas descobertas contradizem a maioria da literatura científica atual.

"Acho que eles fizeram o melhor trabalho possível para isolar o sinal de inundações", ela disse, "mas há muitos fatores difíceis de capturar."

Quando se trata de decisões de se mudar ou não, "geralmente, o conjunto de literatura mostra que os fatores ambientais são relativamente baixos na lista", disse Dahl. "Com maior frequência, as pessoas estão preocupadas com oportunidades de emprego ou em estar mais perto da família."

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