EUA e China iniciam nova era climática após a saída de diplomatas veteranos

John Kerry e Xie Zhenhua deixaram o cargo de enviado climático dos dois maiores poluidores do mundo

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Jennifer A Dlouhy Alfred Cang
Bloomberg

Os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo estão traçando um novo curso de cooperação após as saídas de John Kerry e Xie Zhenhua —dois titãs da diplomacia climática que pavimentaram o caminho para acordos históricos.

Representando os Estados Unidos e a China, os dois passaram anos em lados opostos da mesa de negociações, elaborando acordos globais para reduzir as emissões que aquecem o planeta. Sua relação pessoal próxima resistiu mesmo quando os laços entre as duas superpotências se deterioraram em questões que vão desde o comércio até Taiwan, que está prestes a se tornar uma fonte renovada de tensão após uma eleição que devolveu ao poder o partido pró-EUA.

O desafio agora é construir um sistema que possa continuar mesmo sem a conexão única de Xie e Kerry. Seus sucessores poderão se basear em um alicerce de boa vontade construído durante seus anos de liderança e já têm um mecanismo em vigor para manter as negociações em andamento.

Dois homens de terno preto, um grisalho e outro careca, trocam aperto de mãos, sorrindo
Enviados climáticos dos Eua, John Kerry, e da China, Xie Zhenhua, apertam as mãos em conferência de imprensa na COP28, em Dubai - Amr Alfiky - 13.dez.2023/Reuters

Enquanto a China nomeou para o cargo o diplomata de carreira Liu Zhenmin, 68, um substituto para Kerry ainda não foi anunciado.

Os dois países concordaram em 2021 em estabelecer um grupo de trabalho e posteriormente o encarregaram de colaborar na transição energética, emissões de metano, desmatamento e economia circular, entre outras questões. Esse grupo, que teve uma reunião virtual na sexta-feira (12), tem como objetivo sustentar o progresso durante a mudança de enviados e potencialmente uma mudança de presidentes nos EUA também.

"Xie e Kerry sabiam que estavam de saída e queriam garantir que houvesse alguma estrutura [para que o trabalho pudesse continuar]", disse Jake Schmidt, diretor estratégico sênior de clima internacional da ong Natural Resources Defense Council. "Tê-la incorporada ao grupo de trabalho é uma maneira de fazer isso".

Kerry, um político e diplomata experiente, trouxe uma importância incomum para seu papel. Anteriormente, o cargo era ocupado por burocratas que são especialistas em diplomacia, mas não têm o mesmo perfil elevado. Biden pode voltar a essa rota discreta, embora isso possa exigir que o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, trabalhe de forma mais agressiva e visível nas questões climáticas —um desafio dada a turbulência em curso no Oriente Médio e na Ucrânia.

Potenciais sucessores deste mesmo perfil incluem o ex-governador do estado de Washington Jay Inslee, cuja campanha para a Casa Branca em 2020 foi focada no clima, e John Podesta, um estrategista governamental experiente que agora está na Casa Branca supervisionando a implementação da lei climática de 2022, conhecida como Lei de Redução da Inflação.

O ano de 2024 será desafiador para quem assumir o cargo. As negociações da COP das Nações Unidas deste ano, o encontro anual mais importante no calendário da diplomacia climática, se concentrarão em quanto os países desenvolvidos devem contribuir financeiramente para ajudar as nações pobres a lidar com o aquecimento global.

Os EUA, que são os maiores responsáveis históricos pelas emissões na atmosfera hoje, estarão sob escrutínio especial. A China, atualmente o maior emissor do mundo, também está sob pressão para contribuir com fundos, apesar de seu status oficial como país em desenvolvimento.

A cúpula no Azerbaijão está programada para começar apenas alguns dias após uma eleição presidencial nos EUA que poderia reorientar drasticamente a postura do país em relação ao clima.

Na campanha, republicanos e democratas já estão adotando uma postura mais dura contra a China. Biden estará cada vez mais sob pressão para fazer o mesmo, tornando difícil permanecer conciliador em questões climáticas.

Enquanto isso, a China escolheu uma opção não controversa com Liu, o diplomata nomeado para suceder Xie. Fluente em inglês e formado em direito, Liu atuou como vice-ministro chinês das Relações Exteriores e subsecretário-geral de assuntos econômicos e sociais na ONU. Ele esteve envolvido em negociações climáticas passadas da ONU, incluindo o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris.

Liu participou da cúpula da COP28 no ano passado como assessor sênior de Xie e falou em nome da delegação chinesa em várias ocasiões. No entanto, ele manteve um perfil discreto e evitou conversas com jornalistas fora dos anúncios oficiais. Muitos funcionários do governo chinês próximos a Xie disseram que desejam preservar seu legado de maneira mais visível para garantir que os mecanismos de cooperação que ele desenvolveu com Kerry continuem funcionando.

Xie e Kerry foram figuras-chave na COP28, em Dubai, ajudando a intermediar o primeiro acordo global para a transição dos combustíveis fósseis. Ao final da conferência, Kerry convidou Xie para se juntar a ele em uma coletiva de imprensa de encerramento. O diplomata chinês enfatizou que os dois homens continuariam trabalhando juntos mesmo fora de seus cargos oficiais.

"Somos bons amigos", disse Xie. "Por quê? Porque temos uma filosofia comum, que é valorizar e se comprometer com a proteção ambiental e responder às mudanças climáticas. Não abandonaremos esse campo e faremos o nosso melhor para impulsionar o progresso."

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