Disputa por nomeação republicana começa em Iowa; veja o que esperar além da vitória de Trump

Triunfo do ex-presidente no estado, o primeiro a votar no calendário republicano, é praticamente certo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Placas de Nikki Haley e Ron DeSantis em meio a neve em Des Moines, Iowa Cheney Orr/Reuters

Washington

Um concorrente inesperado entrou de última hora na primeira batalha pela nomeação do Partido Republicano: o inverno.

Na noite desta segunda-feira (15), quando os republicanos em Iowa escolhem seu candidato para a eleição presidencial, a sensação térmica pode chegar a -43º C. É um frio de matar, literalmente, segundo alerta do Serviço Meteorológico Nacional dos EUA.

Da esq. para a dir., Ron DeSantis, Donald Trump e Nikki Haley - Scott Morgan/Reuters, John Lamparski/AFP e Win McNamee/Getty Images/AFP

Não que Donald Trump precisasse, mas a participação inesperada do frio extremo vem a calhar. As edições do caucus, como são chamadas as reuniões organizadas pelos partidos em que um candidato para a eleição geral é escolhido, são sempre geladas em Iowa, mas, se a previsão se confirmar, este ano será um recorde.

Para analistas políticos, o clima gelado é a metáfora perfeita para as primárias republicanas –a liderança absoluta de Trump nas pesquisas de intenção de voto, acima de 60% nacionalmente e de 50% em Iowa, deixa pouquíssimo espaço para emoção na corrida pela nomeação.

A pesquisa final antes do caucus, divulgada no sábado (13), mostra Trump com 48%, 28 pontos percentuais à frente do segundo lugar.

Diante da vitória praticamente certa nesta segunda, a questão é o tamanho da sua distância para o segundo lugar. Uma vantagem superior a 12 pontos percentuais –o atual recorde– será uma demonstração de força. Uma margem inferior a isso, um sinal de alerta.

Considerando a previsão do tempo, há dúvidas se a participação vai ser grande, como era esperado. Em 2016, último caucus republicano disputado no estado, a participação bateu recorde, com 180 mil pessoas. Neste ano, apesar da fama de durões dos habitantes de Iowa, as campanhas já dão como certo que muita gente vai desistir de sair de casa por conta do frio.

A pesquisa divulgada no sábado, realizada entre os dias 7 e 12 de janeiro, perguntou também quem pretende participar do caucus. Entre os participantes prováveis, o percentual caiu de 49% em dezembro para 45% agora.

Quem não deve deixar de ir, no entanto, são justamente os apoiadores de Trump —admissão compartilhada por seus adversários—, favorecendo as apostas em uma ampla margem de votos.

"O pessoal dele literalmente dirigiria seus caminhões através de qualquer coisa [para apoiá-lo]", disse à NBC David Oman, antigo copresidente dos republicanos em Iowa, e que não apoia o empresário.

Nos últimos dias antes do caucus, os candidatos investiram em apelos para que seus eleitores não deixem de participar na segunda.

Margem de vitória de Trump importa

Além da margem de vitória em Iowa, importa também se Trump vai realmente obter mais de 50% dos votos, como apontam as pesquisas, afirma a renomada analista política Amy Walter, editora do Cook Political Report.

"A teoria [dos opositores do empresário] é que, embora a maioria dos republicanos goste de Trump, o piso do seu apoio está mais próximo dos 35% a 45% do que dos 45% ou mais", escreve Walter.

"O candidato capaz de reunir uma coalizão de republicanos ‘Trump Nunca’ (que representam de 15% a 20% do eleitorado) e republicanos ‘Trump Às Vezes’ (que são cerca de 35% a 50%), pode vencer o ex-presidente em um confronto direto. No entanto, essa teoria vai por água abaixo se ele conquistar a maioria dos votos."

Segundo média das pesquisas calculada pelo agregador do FiveThirtyEight, Trump está entre 35 e 40 pontos percentuais à frente em Iowa de Ron DeSantis e Nikki Haley, praticamente empatados em segundo lugar.

Na pesquisa de sábado, Haley aparece em segundo lugar, com 20% de apoio. DeSantis vem logo atrás, com 16% —um empate, considerando a margem de erro de 3,7 pontos percentuais para mais ou para menos.

A disputa de vida ou morte pelo segundo lugar

A posição final dos dois é a segunda chance de emoção da noite, especialmente para DeSantis. O governador da Flórida, visto inicialmente como a principal alternativa a Trump, apostou todas as fichas em Iowa, o que significa que um terceiro lugar pode ser a pá de cal em uma campanha em crise há meses.

Mesmo um segundo lugar, se muito distante de Trump, será visto como um fracasso. DeSantis investiu pesado em publicidade no estado e terminou o "Grassley completo" –como é conhecido o tradicional tour por todos os 99 condados de Iowa– em dezembro.

Já Nikki Haley tem menos a perder. Um terceiro lugar é o esperado, enquanto um segundo fortalece o impulso que sua candidatura ganhou nos últimos meses e faz com que ela chegue com grande momentum a New Hampshire, onde Haley está menos de 12 pontos percentuais atrás de Trump.

A desistência de Chris Christie na última quarta (10) foi uma boa notícia para ela. O ex-governador de Nova Jersey era o crítico mais vocal de Trump entre os pré-candidatos e, como Haley, integrante de uma safra mais moderada de republicanos do que DeSantis.

Quem são os pré-candidatos republicanos

  • Donald Trump

    O ex-presidente é líder absoluto nas pesquisas de intenção de voto, mas acumula contra si quatro processos criminais e foi barrado de participar das primárias em dois estados (a decisão final depende da Suprema Corte). Não há nenhum impedimento para que concorra mesmo que seja condenado, mas não está claro os efeitos que os processos podem ter em sua campanha e em sua posse, se eleito

  • Ron DeSantis

    Governador da Flórida, era a principal aposta como alternativa a Trump quando lançou sua campanha, mas não conseguiu decolar nas pesquisas e chega a Iowa com a missão de chegar em segundo lugar com uma boa votação, do contrário, será a pá de cal em sua candidatura. É conservador e se projetou nacionalmente com ações polêmicas em seu estado, como banimentos de livros e uma briga com a Disney

  • Nikki Haley

    Foi governadora da Carolina do Sul e embaixadora dos EUA na ONU durante o governo Trump. Sua candidatura tem ganhado impulso nas últimas semanas, reflexo de seu bom desempenho em debates e apoio de doadores bilionários. Se ficar em segundo em Iowa, sua campanha ganha força. Tem posições mais moderadas e grande apelo com a ala menos conservadora, escolarizada e rica dos republicanos

  • Vivek Ramaswamy

    O empresário começou a ganhar projeção política com livros atacando o "woke", termo pejorativo para bandeiras de diversidade. Tem posições radicais (nega o aquecimento global) e difunde teorias da conspiração sobre o 11 de Setembro e o 6 de Janeiro. Chegou a ser visto como um "Trump jovem", mas postura agressiva e desempenho instável nos debates desequilibrou sua campanha

  • Asa Hutchinson

    Ex-governador do Arkansas, foi uma das vozes mais críticas a Trump na campanha, ao lado de Christie. Tem menos de 1% das intenções de voto

Christie praticamente não fez campanha em Iowa, o que significa que os efeitos de sua saída não devem ser sentidos nesta segunda. Já em New Hampshire, onde ele havia apostado todas as suas fichas, dois terços dos seus eleitores (12% do total) apontam Haley como segunda opção, segundo pesquisa feita pela CNN em parceria com a universidade do estado.

Outro indicativo da viabilidade de Haley que Iowa pode dar é o perfil dos seus eleitores. Até agora, pesquisas apontam que seus apoiadores tendem a ser mais moderados, escolarizados e ricos do que a média –um grupo minoritário no partido hoje.

Para ser competitiva nas primárias, ela precisa ampliar seu apelo junto a republicanos mais conservadores, menos escolarizados e de menor renda, grupo em que Trump tem grande força. Esta segunda vai ser um teste porque o eleitorado de Iowa está muito mais próximo deste perfil do que daquele em que Haley é mais popular.

Se tiver um bom desempenho nas regiões mais religiosas e rurais, traços que destacam Iowa no cenário nacional, a republicana atesta seu poder de ameaça a Trump nas disputas à frente nas primárias, como na Carolina do Sul, estado onde ela foi governadora, destaca Walter em sua análise.

As chances de isso acontecer, no entanto, são baixas –pelo menos na visão do próprio Christie. Pouco antes de anunciar sua desistência, ele foi pego falando –por acidente, alega– que Haley "vai levar uma surra". Ele também disse que DeSantis teria ligado "apavorado" para ele quando soube que ele sairia da corrida.

DeSantis confirmou que conversou com Christie, mas negou que estivesse apavorado. Disse que ligou apenas para reforçar que o ex-governador de Nova Jersey tinha "todo o direito" de participar das primárias, diante das pressões para que ele desistisse.

Quem mais está no páreo

Com a saída de Christie, seguem dois candidatos com baixíssimas chances na disputa: o empresário Vivek Ramaswamy e o ex-governador do Arkansas Asa Hutchinson.

Vivek também apostou forte em Iowa e, após o bom desempenho no primeiro debate das primárias, em agosto, conseguiu alguma projeção como uma espécie de Trump mais jovem e sem processos na Justiça. Desde então, porém, sua postura agressiva e desempenho instável afundaram sua campanha.

Embora tenha investido pesado em Iowa –ele diz ter feito o Grassley completo não uma, mas duas vezes–, sua intenção de voto está em 6,3%. Sua estratégia agora é difundir a teoria de que há um acordo entre Haley e DeSantis para se unirem logo antes da Convenção Nacional, em que o candidato do partido é anunciado, superando Trump. Isso deixaria o campo Maga (Make America Great Again) sem um candidato se ele, Vivek, não estiver mais no páreo, afirma.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.