Siga a folha

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

O disco de Nei Lopes é uma rara alegria em tempos de tanta tristeza

No clube Cacique de Ramos, surgiu uma nova matriz do samba nos anos 80

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Nei Lopes é categórico: o pagode —um estilo de interpretação do samba e um subgênero da canção popular, surgido no Rio na década de 80— teve um poder transformador na música brasileira igual ou superior àquele que despontou com a geração de bambas do Estácio no fim dos anos 20.

Além de compositor, romancista, cronista, ensaísta, africanista, Nei Lopes é diligente lexicógrafo. Então vamos primeiro ao termo. Sinônimo de divertimento, farra e patuscada, pagode é reunião de sambistas. A partir dos encontros realizados no quintal do bloco Cacique de Ramos, virou o nome do tipo de música que ali se fazia, com inédita linguagem, balanço e jeitos de compor e de tocar, recuperando ingredientes da chula-raiada e do partido alto e readaptando instrumentos como o tantã, o repique e o banjo.

O que se criou de boca em boca, sem microfones ou holofotes, era um ato de resistência cultural, uma resposta ao esvaziamento dos terreiros e quadras nas grandes escolas, que na época já tinham optado pela concepção do Carnaval espetáculo. O Cacique se transformou em nova matriz do samba, despertando a atenção do mercado fonográfico.

A gravação do pau-de-sebo "Raça Brasileira", em 1985, revelou Zeca Pagodinho e Jovelina Pérola Negra. Na turma ainda havia Jorge Aragão, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Sombrinha, Neoci e o Fundo de Quintal. Em 1986, Zeca estreou em disco solo e emplacou os sucessos "Coração em desalinho", "Quando eu contar (Iaiá)", "Judia de mim", batendo na casa do milhão de discos.

Luiz Carlos da Vila definiu o lance: "É perto de tudo/ Ali no subúrbio/ Um doce refúgio/ Pra quem quer cantar". Quase 40 anos depois, o som do Cacique acaba de ressurgir com roupagem de big band, Nei Lopes como crooner, no álbum "Pagode Black-tie". Em matéria de alegria, o ano de 2020 —que já foi tarde!— não produziu nada semelhante.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas