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É correspondente na Europa. Na Folha desde 1988, já trabalhou em política, ciências, educação, saúde e fotografia e foi editora de 'Mercado'. É autora de 'Jornalismo Diário', 'A Vaga É Sua' e 'Folha Explica Folha'.

Descrição de chapéu Tóquio 2020 União Europeia

Calção revelador, cinema e vacinofobia movimentam Olimpíadas na Europa

Quatro casos de atletas europeus põem em perspectiva doença, liberdade, evolução e retrocesso

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Aconteceu na Europa, não necessariamente nesta ordem.

1) Clarisse nasceu prematura. Quatro semanas passou na incubadora, mais sete dias em coma, depois de uma cirurgia no rim malformado.

Quando acordou, respirou fundo. “É uma lutadora”, disse o médico à mãe. Clarisse Agbegnenou pisou no tatame aos nove anos de idade, foi campeã europeia aos 21 e mundial aos 22 e, no último dia 27, aos 28, respirou fundo outra vez e arrancou seu primeiro ouro olímpico no judô peso meio-médio, em Tóquio.

Sem o quimono, a francesa é embaixadora da associação SOS Préma, cuja meta é melhorar oportunidades de crianças prematuras.

Porque milhares de gestações acidentadas deixam lutas igualmente duras, mas incógnitas.

2) Julia Schmid tem 33 anos, é veterinária e nasceu na Áustria. Em seu país, o esporte que escolheu, a canoagem slalom, é forte. Já na vizinha Hungria faltam braços, e a atleta cruzou a fronteira.

Ou quase: não há raias para treinar na Hungria. Mas Julia recebeu a nacionalidade húngara, foi financiada pelo novo país e declarou seu “desejo ardente” de defender a bandeira vermelha, branca e verde.

No dia 7 de julho, pôs os pés em Tóquio como a primeira competidora de slalom húngara desde que o esporte se tornou olímpico, em 1972.

Faz dez dias, desistiu. Não foi lesão ou pressão psicológica, mas recusa em se vacinar contra a Covid-19, condição imposta pelo Comitê Olímpico Húngaro.

Na Hungria, país que vai aplicar de graça a terceira dose de reforço, há quem pague 50 mil florins (mais de R$ 800) por certificado falso, conta a historiadora Eva Balogh.

Julia não é húngara, o que não faz a menor diferença nem para as Olimpíadas nem para o coronavírus.

3) Lesões e pressão, que assombraram no passado a medalhista brasileira Rebeca Andrade e no presente a favorita americana Simone Biles, também atormentavam Eva Bosáková, ouro na trave de equilíbrio e prata no geral de ginástica nos Jogos de Roma, em 1960.

Retratada no modernista “Algo Diferente”, a preparação de Eva para o Mundial de 1962 é um documento incrível de como tudo mudou e nada mudou.

O filme é uma mistura de documentário com ficção, incluído na seleção de “olímpicos” da Mubi (plataforma de cinema global cocriada pela União Europeia que vale a pena conhecer).

4) Olivia Breen tem paralisia cerebral e é medalha de bronze no revezamento 4 x 100 metros nas Parolimpíadas de 2012 e duas vezes campeã mundial paraolímpica na mesma categoria e no salto em distância.

Paralisia cerebral é um nome infeliz para designar o leque amplo de sequelas de uma lesão no cérebro antes de nascer ou no parto. Em nenhuma delas o cérebro fica paralisado e em muitas, como comprova a britânica, o corpo também não.

Há 15 dias, quando jogadoras trocavam biquínis por shorts e, nos Jogos de Tóquio, maiôs cavados por macacão, Olivia disputava o Campeonato Inglês.

Era um domingo quente, tão quente que alguns atletas tiraram as camisas, e ela optou por um calção mais leve, que já usa há vários anos.

Ao final da prova, foi chamada por uma representante da competição: “Compre novos shorts. Esses são muito reveladores, inadequados”.

“Fiquei sem palavras”, contou Olivia. Quando as recobrou, informou que o calção cumpre o regulamento e é com eles que vai a Tóquio.

Pode pôr para tocar a recém-lançada “Not My Responsibility”, de Billie Eilish: “Se eu visto mais, se eu visto menos, quem decide o que isso faz de mim?”.

5) Billie Eilish é americana, não tem nada a ver com os Jogos, mas entra aqui graças à coincidência feliz da letra certa no momento propício.

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