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Engenheiro civil e doutorando pela FGV, é superintendente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP desde 2014.

Não somos mais os mesmos, e que bom!

A pandemia nos exigiu adaptação, colaboração e inovação, que são urgentes na saúde

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Em 2021, a Deloitte, parceira do HCFMUSP em projetos de inovação, lançou a pesquisa Global Health Care Outlook 2021, em que apontou seis questões urgentes a serem trabalhadas pelo setor da Saúde. Como o documento pontuou, a pandemia já reforçava duas características: 1) a pressão sobre profissionais, estrutura e cadeia de abastecimento da saúde, e 2) a exigência por mudanças rápidas dos sistemas público e privado, adaptando-se a novas necessidades e inovando com agilidade.

Assim, as questões urgentes foram: novos hábitos dos consumidores, formas ágeis de trabalhar, transformação digital, colaborações entre os ecossistemas, inovação do modelo de cuidado e mudanças socioeconômicas. Para a empresa, governos, prestadores de cuidados, investidores e outros são agora mais desafiados.

Nesta virada de ano, de balanços e retrospectivas, penso no que vivemos no HCFMUSP com o Sars-CoV-2. E, ainda que seja cenário de dor, vejo que fizemos mais do que o possível e estamos no caminho certo.
De abril a setembro de 2020, transformamos o hospital no maior Centro de Referência para Tratamento da Covid-19 no Brasil. Foi algo sem precedentes nos 76 anos do HC, e com um dos melhores desfechos da América Latina e de muitos países europeus. Nosso Comitê de Crise desenvolveu estratégias, e tivemos o envolvimento de todos os Institutos do Complexo HC e do Hospital Universitário da USP.

Profissionais da saúde do Hospital das Clínicas recebem flores em agradecimento por seu trabalho contra a Covid-19 - Karime Xavier - 3.jul.2020/Folhapress

Em 30 de janeiro de 2020 —um mês antes do primeiro caso de Covid em São Paulo—, nossa Diretoria Clínica mobilizou o Comitê de Crise para criar um Plano Operacional de Enfrentamento da doença. Identificamos que o melhor seria isolar por completo o nosso prédio do Instituto Central (ICHC), para que se voltasse só a pacientes do coronavírus. O trabalho não daria certo sem os mais de 20 mil colaboradores do HC, e seus 1.700 residentes, residentes multiprofissionais e alunos. Os 11 andares do prédio foram remodelados, com adaptação de enfermarias e centros cirúrgicos em UTIs.

Fizemos inovação no modelo de cuidado. Começamos com 94 leitos para tratamento intensivo, e isso mais do que dobrou --foram criados mais 300 leitos de UTI e 500 de enfermaria. Vemos aqui um dos pontos levantados pela Deloitte: a forma ágil de trabalhar. Transformamos todo o nosso ambiente com planejamento e organização e com muita agilidade.

Claro, tivemos doações, imprescindíveis: com essa ajuda, adquirimos mais de 500 equipamentos --dentre eles, 150 monitores multiparamétricos e 68 ventiladores pulmonares. E colocamos robôs para circular em enfermarias, UTIs e ambulatórios, reduzindo a chance de contágio dos profissionais. Robôs interagiram com pacientes que chegavam para consultas. Usamos tablets para manter a comunicação entre paciente internado e família. E vimos consumidores adotando novos hábitos.

O Núcleo de Tecnologia da Informação (Neti) lançou o "HC em Casa", plataforma que permitiu reagendar consultas e procedimentos ambulatoriais, evitando a ida até o complexo. O usuário podia ainda acessar o Portal do Paciente para saber de seu tratamento.

Com a enfermagem do Sírio-Libanês, o ICHC capacitou 1.020 colaboradores para desenvolver competências e habilidades de enfermagem para pacientes de alta complexidade. Internamente, a rede de parcerias mostrou forma ágil de trabalhar, transformação digital e colaboração entre ecossistemas. Exemplo: anestesistas treinaram equipes médicas em abordagem de via aérea.

Assim, inovamos no cuidado. Tivemos 1.664 médicos residentes convocados na pandemia; mais de 700 jovens médicos atuaram na linha de frente e 900 garantiram assistência a pacientes transferidos do ICHC para os outros institutos.

Os resultados revelam a força de o HCFMUSP atuar: a) o ICHC internou cerca de 9.000 pacientes graves com Covid e obteve alto índice de sucesso; b) No período mais crítico, a ocupação dos 300 leitos de UTI superou 90%; c) foram 106 partos em pacientes com Covid-19, quatro deles na UTI.

A parceria com os Institutos do Complexo HC e Hospital Universitário garantiu, em média, 100 internações e 800 cirurgias inadiáveis por mês, a pacientes com outras doenças. A Unidade de Emergência e Urgência Referenciada, no InCor, atendeu mais de 2.000 pacientes graves; no Hospital Universitário, foram mais de 7.000 atendimentos. Ainda fizemos 100 transplantes, o Prédio dos Ambulatórios promoveu 132 mil consultas ambulatoriais e o Hospital-Dia atendeu a mais 1.600 pacientes.

Então, sim, o HCFMUSP atua de forma pioneira e diferenciada. E o que mais me deixa orgulhoso é que as perspectivas apontadas para 2021 já eram por nós vivenciadas em 2020! Por isso o HCFMUSP é considerado o maior complexo de saúde da América Latina!

Fica a nossa atenção às mudanças socioeconômicas -- o Brasil tem muito a se desenvolver. Que 2022, com eleições, seja melhor, para que a saúde alcance, cada vez mais, toda a população de forma igualitária.

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