Antonio José Pereira

Engenheiro civil e doutorando pela FGV, é superintendente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP desde 2014.

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Descrição de chapéu Coronavírus

Engajamento social na Covid-19: o brasileiro escolheu a vacina

As pessoas estão conhecendo/redescobrindo o SUS

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Desde março de 2020, vivemos uma pandemia que mudou nossas rotinas, interações sociais e modos de conviver e trabalhar. E, acima de tudo, nos ensinou que cuidar de si mesmo também é cuidar do próximo.

No complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), iniciamos uma operação de guerra: modificamos espaços e o Instituto Central foi direcionado para pacientes com infecção pelo Sars-CoV-2.

Intensificamos pesquisas, desenvolvemos softwares e apoiamos a academia na busca de novas informações para o combate do inimigo desconhecido. A tecnologia se consolidou como figura essencial para apoiar pesquisadores na prevenção e no tratamento de quadros graves e para oferecer qualidade de vida aos infectados e melhor suporte aos familiares.

Foi uma demonstração inequívoca da importância da inovação em saúde. Não por acaso, foi esse um dos investimentos centrais do HC nos últimos anos, mostrando a relevância do já instituído InovaHC como um dos seus mais importantes pilares. A inovação permite que antecipemos novos problemas, que enfrentemos melhor os antigos e, mais importante, que proporcionemos melhor acesso da população à saúde, com o uso criterioso da telemedicina.

Para conter a pandemia, dependemos dos profissionais de saúde, a quem agradecemos, personagens que fizeram a diferença nos últimos 18 meses, superando desafios no atendimento à população. Aos 26 mil funcionários do HCFMUSP, nosso reconhecimento e agradecimento.

Mas dependemos também da sociedade civil, das pessoas que, se não se engajarem nas campanhas sanitárias, de prevenção e de vacinação, farão com que nossos esforços sejam anulados, e causarão a persistência desta pandemia.

Por "engajamento", entenda-se tomada de ação, participação ativa, adesão a uma causa. A escritora Martha Gabriel define os três “Es” do engajamento social: educação, engenharia e execução (no sentido de “fazer cumprir”). E acredito que este é o caminho que devemos seguir, com base em informações científicas e com lideranças regionais visando educar a população para chegarmos à execução do planejado.

Estudo recente, de maio de 2021, da Nature Human Behaviour identificou as intervenções que tiveram mais impacto na redução da transmissão do novo coronavírus. O trabalho identificou, durante 2020, os governos que se comunicaram com suas populações de forma mais clara, e, baseados em evidências, influenciaram seu comportamento, contribuindo para a redução da disseminação do vírus. Certamente, nesse ambiente, o combate às fake news e aos movimentos antivacina tiveram um papel essencial.

O brasileiro (re)descobriu o SUS

A vacina só pode ser adquirida por governos e sistemas públicos sanitários. E, sim, vacinar é responsabilidade do SUS (Sistema Único de Saúde). A importância social do SUS explodiu.

Indo ao posto se vacinar, o brasileiro está conhecendo/redescobrindo o sistema. Antes da pandemia, o SUS realizava 2,8 bilhões de atendimentos por ano; entretanto, mesmo com números tão expressivos, parte da população não conhecia sua dimensão, amplitude e alcance.

O SUS é considerado um dos maiores sistemas de saúde do mundo e o único a atender mais de 200 milhões de habitantes; engloba desde atendimentos primários até complexos; e é financiado com o dinheiro de impostos, gratuito para toda a população e, por isso, universal —um direito estabelecido na Constituição. É privilégio raro no mundo.

Não ignoro os problemas; há muitos, e infelizmente alguns difíceis de serem contornados. Como dar suporte de saúde num país onde cerca de 60 milhões de pessoas sobrevivem nos limites da dignidade, vulnerabilizados pela fome, abandonados em locais incompatíveis com a existência e fragilizados pela falta de instrução? Mesmo assim, há muito trabalho bem realizado.

Que bom que o brasileiro está vivenciando o SUS de forma mais plena e próxima. É preciso conhecer para defender, usar para compreender seus benefícios e também as fraquezas do sistema que devemos superar. Com o engajamento de todos, teremos um SUS ainda mais forte. E este movimento já começou.

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