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Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

Descrição de chapéu
beleza

Até que manequins façam sentido, continuaremos culpando nossos corpos

A vida aí, já tão complexa, e nossas formas sendo encaixadas em bizarros padrões

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"Vrááááááá." Só de pensar nesse barulho de cortina de provador sendo aberta na base da ignorância, eu me arrepio inteira. "E aí, gata, ficou bom???" A mesma adrenalina tensa ao receber mensagem de motorista de aplicativo, "cheguei", enquanto ainda luto para fechar o zíper de qualquer bota de cano alto.

Sim, eu poderia dizer que a vida não é prática para mulheres do meu tipo: quase 1,80 m, canelas grossas feito um brasão anatômico de família. No entanto, sendo justa: a vida não é prática para absolutamente ninguém quando o que está em jogo é não sair pelada por aí.

Do alto de minha própria frustração indumentária, entre mangas curtas demais e vestidos que jogados em mim parecem blusinhas, sou solidária a todas aquelas que, assim como eu, nunca se viram refletidas nos manequins das vitrines. Altas ou baixas, magras ou largas, peitudas ou retas, popô P ou GG.

Formamos um exército de figuras díspares, na luta por trapinhos confortáveis, bonitos e minimamente dignos, seja em sites chineses ou araras de loja, das mais populares às metidas a besta.

Porém, até que as numerações passem a fazer sentido, continuaremos botando a culpa em nossos próprios corpos supostamente desajustados.

Há pouco tempo, li uma matéria sobre a tão sonhada padronização de tamanhos. E para minha surpresa, descobri que a maioria das brasileiras tem o mesmo biótipo —odeio essa palavra— poligonal. Isso mesmo: uma pesquisa antropométrica da população nos definiu 76% retângulas. Quando não triângulas, 8%. Ou triângulas invertidas, 5%.

O que me levou a questionar: que raio de geometria é essa?

Compreendo a intenção lógica de formatar para vestir. Slogan, aliás, perfeitamente cabível ao se tratar de uma sociedade fascisto-fashion. Contudo, não somos planas e bidimensionais. Corpos femininos têm peso e precisam de espaço, feito poliedros com trocentas faces e arestas.

Nossas barrigas fazem dobrinhas 3D quando sentamos relaxadas. Colunas não são linhas retas. Inchamos esfericamente, comendo caixas inteiras de Bis na TPM. E nossos peitos nem sempre preenchem o volume total dos sutiãs.

Fórmula alguma será capaz de definir tantas variáveis fascinantes. O suíço Leonhard Euler brindou a humanidade com seu teorema matemático de F + V = 2 + A, mas somos humanas. Lindas, gostosas, complexas e incongruentes. E se nem Platão teve como definir mais de cinco tipos de sólidos regulares, sinto-me à vontade para conclamar: sejamos muitas. Com orgulho e duas polegadas, a mais ou a menos, tendendo ao infinito.

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