Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).
Governo Lula volta ao campo de espinhos da segurança pública
Há anos, esquerda tem dificuldades para superar conflitos com posições do eleitorado nessa área
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O debate da segurança pública foi um adubo da extrema direita brasileira na última década. A violência urbana e a imagem do "cidadão de bem" abandonado foram exploradas para ampliar a rejeição à esquerda e alimentar soluções obtusas como a matança policial e a liberação indiscriminada de armas de fogo.
O bolsonarismo reivindicou o monopólio do tema, mesmo sem entregar uma plataforma para a área. Aproveitando o histórico errático do PT, o grupo renovou a falsa crença de que direitos humanos só beneficiam criminosos, tiraram do armário eleitores que defendem a brutalidade e carimbaram adversários como inimigos da polícia.
Lula voltou a esse campo de espinhos nesta quarta (15). O presidente relançou o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, destacando investimentos sociais, programas de qualificação de agentes e críticas à violência policial.
"Muitas vezes, o Estado só está presente na periferia com a polícia. E não está presente para resolver, está presente muitas vezes para bater", disse. As estatísticas e o noticiário estão aí para provar que o presidente não cometeu nenhuma imprecisão, mas o discurso se tornou munição para a oposição.
Há anos, a esquerda tem dificuldades para enfrentar rivais nas discussões sobre segurança. O PT e aliados guardam o mérito da defesa dos direitos humanos, mas as abordagens sobre a redução da criminalidade contrariam parte do eleitorado.
Em 2019, 72% dos brasileiros disseram ao Datafolha que havia policiais em número insuficiente em suas regiões. Além disso, 54% afirmaram que a sociedade estará mais segura se houver mais pessoas presas. Os índices eram semelhantes entre os mais pobres e eleitores do PT.
Na cerimônia desta quarta, Flávio Dino (Justiça) ensaiou uma autocrítica e disse que o governo enfrentaria o desafio de buscar um reposicionamento. "Fazer segurança pública é cuidar dos mais pobres, algo que nós da esquerda brasileira às vezes temos dificuldade de entender", afirmou. "Os mais pobres precisam do Estado, precisam da lei, precisam da segurança pública. Segurança pública não é um tema da direita."
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