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Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

Livros de política de 2022

Grande tendência do ano foram os bons livros de jornalismo investigativo sobre bolsonarismo e seus desdobramentos

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O bicentenário da Independência rendeu bons livros de história política com horizontes amplos. Entre eles, destaco "Adeus, Senhor Portugal", de Rafael Cariello e Thales Zamberlan Pereira, que deve se tornar o livro de referência sobre a Independência nesta geração; e "Império em Disputa", de Thiago Krause e Rodrigo Goyena Soares, que mostra, já nas primeiras décadas do Brasil independente, as tensões envolvidas na construção de um Estado moderno sobre um sistema econômico que combinava racismo, desigualdade e violência.

"Junta em Pernambuco" (1835), de Johann Moritz Rugendas, imagem contida no livro Adeus, Senhor Portugal - Reprodução

Os mecanismos que perpetuam essa desigualdade original até hoje são bem descritos em "A Sociedade Desigual", de Mário Theodoro. Cida Bento discute em "O Pacto da Branquitude" como o lugar social dos brancos brasileiros, e sua autoidentificação como "o normal", perpetua essas injustiças. "Nada os Trará de Volta" reúne artigos de Edson Lopes Cardoso, militante negro que tentou combater essas iniquidades, em uma trajetória que incluiu conflitos sérios dentro da esquerda.

Filósofos e cientistas políticos com talento teórico continuaram a discutir a crise da democracia brasileira com qualidade. Marcos Nobre, em "Limites da Democracia", e Rodrigo Nunes, em "Do Transe à Vertigem", discutiram o processo que vai dos protestos de 2013 à ascensão de Bolsonaro, tentando provar que esse trajeto não era inevitável.

Em "O Populismo Reacionário", Christian Lynch e Paulo Henrique Cassimiro refletem sobre o lugar do bolsonarismo e das correntes que o formaram, dentro das principais tradições ideológicas brasileiras.

"O Povo de Deus", estudo de Juliano Spyer sobre o pentecostalismo brasileiro, já é um trabalho de referência que fez subir de patamar a discussão sobre o tema dentro da intelectualidade brasileira, em um momento em que esse debate se tornou crucial.

Em "A Democracia Equilibrista", Pedro Abramovay e Gabriella Lotta contam a passagem de Abramovay pelos governos Lula e Dilma com ênfase nas tensões entre decisões políticas e técnicas, um bom exemplo de relato pessoal usado para puxar discussões mais amplas.

Mas a grande tendência do ano foram os bons livros de jornalismo investigativo sobre o bolsonarismo e seus desdobramentos. Em "Poder Camuflado", Fabio Victor mostra como as relações entre militares e política na Nova República sempre tiveram traumas mal resolvidos que ajudam a explicar o bolsonarismo.

Em "O Negócio do Jair", Juliana Dal Piva demonstra cabalmente que é possível ser corrupto e autoritário ao mesmo tempo, em um dos esforços de reportagem de maior impacto de nossa história recente.

Em "O Fim da Lava Jato", Aguirre Talento e Bela Megale contam uma história fundamental para entender a política brasileira recente, em que absolutamente nenhum dos grandes atores envolvidos sai bem na foto.

Capa do livro "O Fim da Lava-Jato", dos jornalistas Aguirre Talento e Bela Megale - Divulgação

Em "Sem Máscara", Guilherme Amado descreve o regime de caos permanente do governo Bolsonaro, que tragicamente coincidiu com um período em que o Brasil precisou muito de um governo funcional.

Nessa leva, o destaque é de "O Ovo da Serpente", de Consuelo Dieguez, que conta a história da ascensão do bolsonarismo em meio a uma sucessão de fracassos institucionais e azares trágicos, com forte trabalho de investigação de bastidores. É o livro do ano.

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