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Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

O Brasil e a leitura, ecos de uma Bienal

Sem enfrentar os inimigos da leitura, há poucas chances de sairmos da crise civilizatória

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Há tempos que a pesquisa Retratos da Leitura, realizada pelo Instituto Pró-Livro desde 2007, vem mostrando que somos um país de não leitores. O brasileiro médio lê pouco, mostram sucessivas edições da pesquisa. Houve, inclusive, uma redução do percentual de leitores entre 2015 e 2019. Entre os que mais deixaram de ler estão as classes altas da região Sudeste. Além disso, só 45,7% das escolas tinham, em 2019, bibliotecas ou salas de leitura. Cerca de 80% dos professores afirmavam ser leitores, mas só 52% diziam estar lendo no momento.

Público na Bienal do Livro de São Paulo, realizada no Pavilhão de Exposições do Expo Center Norte - Adriano Vizoni - 2.jul.22/Folhapress


Neste contexto, é admirável ver o afluxo de pessoas, adultos e crianças, na Bienal Internacional do Livro de São Paulo que termina neste domingo. Parte dos frequentadores são alunos da rede municipal de São Paulo que receberam vouchers para comprar livros de seu interesse na visita aos estandes no Expo Center Norte. Os professores também puderam escolher obras de sua preferência, investindo-se assim em fomentar a leitura entre mestres, que, por sua vez, formam novos leitores.


De fato, algo importante vem mudando. No primeiro semestre de 2021, as vendas de livros cresceram 46,5% em relação ao mesmo período de 2020. O interesse por lives e discussões sobre obras tanto ficcionais como de não ficção vem aumentando e até as redes sociais vêm servindo de instrumento para divulgação de preferências literárias.


E o que não tem faltado, neste retorno ao presencial da Bienal do Livro que homenageia Portugal, mas trouxe também autores africanos como a Paulina Chiziane, de quem li o magnífico "Niketche", são debates literários, sessões de autógrafos e contato direto com autores. Colocar o livro no centro e expor as novas gerações a obras em diferentes formatos —afinal, o digital não é inimigo da leitura— pode ser um caminho importante para resgatar o prazer de ler.


Não avançaremos, no entanto, se não instalarmos, nas escolas, bibliotecas ou salas de leitura com acervos diversificados e interessantes, com horários reservados e incentivos para que os alunos possam frequentá-las, e se não mantivermos nas cidades bibliotecas públicas equipadas e acessíveis a todos.

Mas o pior adversário do livro, infelizmente, são discursos e práticas que demonizam autores, ridicularizam obras "cheias de letrinhas" e logram até incentivar a Biblioteca Nacional a premiar um personagem cujo "grande feito" foi o de quebrar uma placa de rua com o nome de alguém que lutava para ampliar o acesso ao conhecimento e a oportunidades.


Sem enfrentar estes verdadeiros inimigos da leitura, há poucas chances de sairmos da crise civilizatória que hoje nos quer engolir.

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