Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin

Por que ler os clássicos

No dia 2 de fevereiro completou-se um século da publicação de "Ulisses"

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No dia 2 de fevereiro, completou-se um século da publicação de "Ulisses", de James Joyce. Uma efeméride a ser comemorada, sem dúvidas! Foi, à época, um livro censurado em vários países e que teve impacto tão grande que justificou a criação de um dia, 16 de junho, em que a obra e o autor são celebrados, o "Bloomsday", com base no nome do protagonista, Leopold Bloom.

Muito jovem, ao saber das dificuldades da leitura de "Ulisses", decidi realizar a empreitada, não antes de me propor a ler o igualmente desafiador "Em Busca do Tempo Perdido", de Proust. O que me movia? Queria provar a mim mesma que era capaz, como fazem atletas em uma área de atuação em que eu definitivamente não me destaco. Mas tinha também um prazer imenso em ler e queria saber se a reputação dessas obras se justificava.

Li primeiro o "À la Recherche", na tradução de Mario Quintana, e, depois de percorrer com certa dificuldade as primeiras 20 páginas, encontrei o ritmo e deslanchei. Lembro-me de um dia, em Salvador, ao ler sobre as desventuras do narrador com a Albertine, sentir forte o ciúme que ele afirmava sentir dela. Nesse momento entendi por que essa obra é clássica. Passei dias enciumada por conta do texto. Foi um grande prazer ler e, mais recentemente, reler na língua original (afinal, minha primeira língua) o livro basilar de Proust.

A empreitada com o "Ulisses" foi quase um projeto. Li sobre a Irlanda antes da leitura propriamente dita, adquiri um texto sobre alusões em "Ulisses", percorri as páginas do livro com cuidado, sem prazo para acabar, e aventurei-me a ler no original. Levei quase um ano, mas valeu cada segundo.

Nunca entrei num curso de literatura, o que me dificultou o processo de descoberta das nuances de cada obra e a definição de novos títulos a explorar, mas me ajudaram, nessa jornada, o "Cânone Ocidental", de Harold Bloom, e a lista de Clifton Fadiman ("The Lifetime Reading Plan"), entre outros. Acrescentei, por minha conta, alguns clássicos da África, onde vivi por cerca de um ano, e de afrodescendentes. Destes, os melhores foram o de Chinua Achebe "O Mundo se Despedaça" e o "Amada" de Toni Morrison.

Evidentemente, não concentro minhas leituras nos clássicos, afinal gosto de descobrir autores contemporâneos e não leio só não ficção. Mas confesso que foram os melhores livros produzidos pela humanidade que me ensinaram a pensar com autonomia e a olhar para a história como um processo em construção, em que novas gerações podem lançar um olhar antropológico para as que as precederam e, assim, entender os valores, embates, crenças ou preconceitos que lhes marcaram a existência.

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