Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário
O desequilíbrio entre preço e renda no mercado imobiliário residencial
Segundo estudo, enquanto o ganho familiar cresceu 8% em cinco anos, valor das unidades habitacionais aumentou 24%
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À medida em que as cidades em todo o mundo se tornam mais fortes economicamente, aumentam a demanda por terrenos e os custos de produção das unidades habitacionais.
Ainda que vultosas quantias venham sendo alocadas na construção de milhares de unidades habitacionais, persiste nas principais cidades o desequilíbrio entre a demanda, e a oferta de unidades residenciais a preços acessíveis para grande parte da população.
A empresa britânica de consultoria “Knight Frank” pesquisou em 32 das principais cidades do mundo a relação entre o preço das habitações e o ganho médio das famílias após o abatimento dos impostos.
Segundo o estudo, nas 32 cidades pesquisadas, enquanto o ganho das famílias teve um crescimento médio de 8% nos últimos cinco anos, em função da prosperidade global, no mesmo período os preços das unidades habitacionais cresceram em média 24%.
Em Dublin, por exemplo, o percentual de crescimento do preço médio das habitações foi cerca de cinco vezes superior àquele referente ao crescimento da renda familiar. Embora o forte desempenho econômico da cidade nos últimos 6 anos tenha elevado, em termos reais, o nível de renda em 13,2%, aumentou também a demanda por habitações, contudo sem um crescimento proporcional da oferta.
Como resultado, o preço das unidades residenciais cresceu 61,9% no mesmo período, causando um forte desequilíbrio entre renda e preço dos imóveis. Segundo o estudo, a campeã nesse desequilíbrio foi Amsterdã, onde o percentual de aumento do preço das unidades residenciais cresceu aproximadamente 14 vezes acima do relativo à renda das famílias.
Esse padrão de desequilíbrio, embora predominante, não foi observado em todas as cidades. Em Nova York, o percentual de crescimento da renda superou o da elevação do preço das moradias em 37%.
O mesmo ocorreu em Moscou, Cingapura, Mumbai e Paris, onde a renda real média nos últimos cinco anos cresceu mais rapidamente que o preço das habitações, indicando uma melhora na acessibilidade da população à moradia.
São Paulo e Dubai foram as únicas entre as cidades pesquisadas que apresentaram ‘crescimento negativo’. Em São Paulo, enquanto os preços das habitações decresceram 13,2%, a renda média das famílias diminuiu ainda mais, atingindo uma taxa negativa 17,2% nos últimos cinco anos.
Outro exemplo é Jacarta, na Indonésia, onde, com o objetivo de atenuar o desequilíbrio entre preço e renda, os empreendedores estão reduzindo o tamanho das novas unidades residenciais. Esse novo padrão aumentou a oferta de unidades, ajudando a manter os preços mais estáveis e atrativos.
A observação e a compreensão dessas tendências pode ser muito importante para a economia brasileira. No momento em que buscamos desenvolvimento econômico e aumento da renda familiar, devemos nos conscientizar que, se não forem tomadas as devidas providências, poderá haver um forte desequilíbrio entre o preço da moradia e a renda das famílias.
O principal antídoto para esse problema é o aumento da oferta. Isso somente será conseguido por meio de uma conjunção de medidas, que vão desde a reavaliação de restrições urbanísticas e dos padrões de projeto e construção, objetivando incentivar a inovação e a redução de custos na produção imobiliária, até uma reestruturação e o fortalecimento do sistema de financiamento a longo prazo das unidades residenciais.
Isso permitirá que se amplie o leque de alternativas, para que seja alcançado o almejado equilíbrio entre preço e renda no mercado imobiliário residencial.
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