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Coluna é assinada pelo jornalista e tradutor Daniel de Mesquita Benevides.

Brandy alexander é ótimo drinque para quebrar abstinência da Quaresma

Feito com licor de cacau, conhaque e creme de leite, coquetel é dica para celebrar a Páscoa

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E então Jesus ressuscitou. Isso depois de ter sido apedrejado, cuspido e pregado na cruz. Do túmulo vazio, em meio a uma poeira sinistra, ergueu-se novamente, com seus belos traços cor de chocolate. A humanidade estava salva. Os pecados haviam sido redimidos e havia um paraíso a nos esperar. Motivo de festa, por pelo menos dois mil anos.

Já refeitas do susto (no evangelho segundo Mateus, Jerusalém é invadida por zumbis) as pessoas passaram a celebrar efusivamente. Havia música e dança no ar. Ovos pintados com esmero eram escondidos nas florestas, salões e jardins, para que as crianças corressem em sua busca. Na Bulgária essa caça era feita no tapa.

Símbolos da vida e do renascimento, os ovos de Páscoa passaram por mutações, da madeira ao ouro, chegando enfim, por mão de doceiros franceses, ao produto do cacau. Essa fruta peculiar, que fermenta sozinha se deixada no chão, tem a mesma forma e tamanho dos ovos de chocolate de hoje.

Originário da bacia amazônica, o cacau era a base de bebidas amargas e apimentadas dos povos maias e astecas muito antes da Última Ceia. Como num espelho, os ascendentes de guatemaltecos e mexicanos faziam rituais com a fruta oval do outro lado do nosso tempo.

DIAS DE VINHO E ROSAS

Lee Remick em cena do filme 'Vício Maldito', de 1962 - Reprodução

No fim, a volúpia pelo chocolate tem pouco em comum com o cenário escatológico que originou a Páscoa católica. E se isso representou uma doce heresia, por que não um coquetel? No domingo os freios da Quaresma já terão sido desligados. O brandy alexander, nesse caso, é perfeito.

Feito com licor de cacau, conhaque e creme de leite, é melhor que o espalhafatoso death by chocolate, que não passa de um milk-shake alcoolizado. Fez furor durante a Lei Seca nos EUA (1920-1933) quando ainda era chamado apenas alexander e feito com gim. Depois renasceu (ops) nos anos 1960.

Eram tempos ainda mais machistas. Esse coquetel era considerado "bebida de moça", certamente por ser doce, menos "másculo". O humorista James Thurber discordaria. Autor da frase "um martini é bom, dois é muito, três não é suficiente", era um devoto do brandy alexander, assim como James Baldwin e John Steinbeck. No Brasil tem uma versão com leite condensado, o meia de seda.

O diretor Blake Edwards, conhecido por algumas das melhores comédias de Hollywood, como as da Pantera Cor-de-Rosa, faria um filme em que o brandy alexander tem papel fundamental.

Eles saem para jantar. Ansioso, ele pergunta se ela quer tomar algo. Mas ela não bebe. Por quê? Não gosta do sabor. O álcool faz a gente se sentir bem, ele retruca. Gosto mesmo é de chocolate. E já me sinto bem, obrigada. Insistente, ele pede que ela espere um segundo. Vai ao bar e volta com uma taça. Ela gosta, o que é?

A cena está em "Vício Maldito", lançado em 1962. Ele, um relações públicas picareta, que arranja garotas para milionários, é Jack Lemmon. Ela, secretária de um desses milionários, é Lee Remick, com olhos transparentes como as águas de uma piscina gelada. O título original é menos pesado: "Days of Wine and Roses" (Dias de Vinho e Rosas).

Jack Lemon e Lee Remick em cena do filme 'Vício Maldito', de 1962 - Reprodução

Imune a ressacas, a história do casal apaixonado que se afoga num mar de coquetéis recebeu cinco indicações ao Oscar, ganhando pela música-tema. Prefiro a canção do soulman Bill Withers, inspirada pelo filme: "Ain't no sunshine when she's gone". Sem ela, é só escuridão.

BRANDY ALEXANDER

  • 45 ml de conhaque
  • 30 ml de licor de cacau
  • 25 ml de creme de leite

Bata os ingredientes com gelo e coe para uma taça coupe gelada

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