Gelo e gim

Coluna é assinada pelo jornalista e tradutor Daniel de Mesquita Benevides.

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Gelo e gim

Drinque manhattan une histórias que vão de Marilyn Monroe à mãe de Churchill

Bebida feita com uísque e vermute teria surgido em 1874 em uma festa em Nova York; veja receita

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Jack Lemmon e Tony Curtis são músicos de jazz. Testemunham, sem querer, o massacre de São Valentim, uma disputa entre mafiosos da pesada. Para não serem igualmente metralhados, colocam vestido e batom e entram numa banda só de mulheres —a estrela é Sugar Kane, ou Marilyn Monroe, em seu papel mais lembrado.

Curtis mal segura o desejo pela loira espetacular que toca ukulele e entoa canções como se sussurrasse em nossos ouvidos. Com suas curvas de ampulheta, a coquete Marilyn é um show à parte em "Quanto Mais Quente Melhor".

Mas na comédia de Billy Wilder é Lemmon quem garante as risadas. Seus trejeitos e reboladas desengonçados dão o ritmo do filme, que culmina numa cena antológica. Hoje, em que pessoas trans ganham espaço, a ingenuidade das piadas de double entendre pode soar como ruído. A cultura se move, ainda bem.

Uma das cenas se passa num trem-leito. Lemmon e Marilyn resolvem fazer uma festinha particular num cubículo próximo ao teto. Ele perde o equilíbrio e a musa de açúcar, atrapalhada, tenta segurá-lo pelas pernas. Tchibum! Ela pergunta se ele está bem. E a garrafa? Ufa, o bourbon se salvara na queda.

Mas todas acordam e resolvem beber também. Em meio a uma confusão de braços, pernas e gritinhos abafados preparam manhattans clandestinos —estão nos tempos da lei seca. Misturam os ingredientes numa bolsa de água quente e brindam com copinhos de plástico.​​

É surpreendente que Marilyn esteja tão radiante no filme. Sua vida estava um inferno. Insegura, esquecia as falas e era hostilizada pelos companheiros de set. Nem os truques aprendidos no Actor's Studio a ajudavam. Para piorar, perdera um filho de Arthur Miller, o grande dramaturgo, com quem teve sua relação mais duradoura.

Refugiava-se na poesia de Whitman, Yeats e Cummings, em manhattans (que alguém chamou de "Sinatra numa taça"), vodca com laranja e pílulas para dormir. E também no sexo. Era, de acordo com Miller, alguém de uma sensibilidade aguda e imprevisível, muito à frente de sua época. O calendário apontava para a era burguesa de 1950, mas Marilyn já vivia os libertários anos 1960.

Terra da embriaguez

Outra que atravessava o tempo com desdém sedutor pelas convenções era Lady Churchill, mãe do famoso primeiro-ministro inglês. Filha de um milionário americano de Wall Street, era considerada a Helena de Tróia de sua época. Entornava homens como se fossem coquetéis. Teve cerca de 200 amantes. Depois da morte do marido, casou-se com um jovem da idade do filho. Pouco mais tarde repetiria a dose com outro mancebo.

Vivia pelos prazeres e apetites. O manhattan, possivelmente uma palavra indígena que significa "terra da embriaguez", teria surgido em 1874, numa festa em homenagem ao recém-eleito governador de Nova York. Ele fazia parte dos Bourbon Democrats, versão mais palatável do odioso Tea Party. Como estavam na ilha mais famosa do estado, Lady Churchill não teve dúvidas: ergueu a taça contendo uísque e vermute e brindou: a Manhattan! Nascia, assim, "a maior contribuição dos Estados Unidos à civilização".

É daquelas histórias que se non è vero, è ben trovato. Pena que, na verdade, ela estava na sisuda Inglaterra, colocando Winston no mundo. Este, por sua vez, beberia todo o catálogo de coquetéis, de A a Z. Menos o manhattan. Freud explica.

O barman Spencer Amereno Jr. preparando um manhattan
O barman Spencer Amereno Jr. preparando um manhattan - Renan Viana/Folhapress

MANHATTAN

Ingredientes

  • 60 ml de bourbon
  • 30 ml de vermute doce
  • Dois espirros de angostura

Passo a passo
Mexa os ingredientes com gelo e coe para uma taça martini previamente gelada. Decore com uma cereja marrasquino.

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