Coluna é assinada pelo jornalista e tradutor Daniel de Mesquita Benevides.
Nova temporada de 'White Lotus' tem a cor do aperol spritz
Nova leva de turistas da série é devota do italianíssimo Aperol Spritz
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Desconforto de um lado e alívio cômico de outro. É como "White Lotus" se equilibra, levando junto o espectador. Num dos momentos engraçados da nova temporada, a louca personagem interpretada por Jennifer Coolidge, fundadora da instituição MILF (vide "American Pie"), pede por uma "médium da velha guarda" à gerente do hotel em Taormina, na Sicília.
"É urgente".
Então surge a figura de preto, com ar sombrio e trágico, Tirésias em corpo de Anna Magnani, e se debruça sobre um baralho de tarô. Ansiosa, Coolidge, vencedora do Globo de Ouro, assim como a série, pergunta se ela quer uma água ou um highball. A sugestão de tomar um drinque com uísque e soda naquele clima milenar, em que seres míticos parecem voar em torno da taróloga, cai como uma manada de javalis numa missa papal.
"Meu casamento vai dar certo?"
Como um corvo de Poe, a adivinha dobra as asas e começa a tirar as cartas. O vaticínio não poderia ser pior: ele vive um affair, ele é perigoso, algo muito ruim vai acontecer etc. etc. Transbordando num figurino de ópera casual, a diva nouveau riche chuta a infeliz para fora aos gritos de "você é muito negativa! Devia me pôr para cima, isso sim!".
O highball ficou para ocasião mais auspiciosa.
The "White Lotus" é um desfile de tipos como a Tanya de Coolidge: cheios de defeitos e dinheiro, eles vêm e vão nas paisagens paradisíacas, falando e fazendo bobagens, mas sempre com um coquetel nas mãos. São piñas coladas, singapore slings e old-fashioneds, além dos proverbiais shots de tequila e uísque.
A nova leva de turistas na franquia, no entanto, é devota quase exclusiva de um drinque: o italianíssimo Aperol Spritz, bastante pedido nos balcões brasileiros de uns tempos para cá. A cada cinco ou dez minutos lá estão eles, os casais Silicon Valley, as amigas prostitutas, o trio formado por avô e pai machistas e neto desconstruído, a gangue de gays assassinos, o garoto de programa e a jovem secretária, perdidos e encontrados em seus goles do aperitivo do Vêneto.
A fama internacional da mistura cor de laranja veio nos anos 1990 e estourou depois de uma aparição na comédia "Entrando numa Fria", em 2000, quando a hippie Barbra Streisand oferece um Aperol ao rabugento Robert De Niro, avesso a novidades.
Mas o conceito spritz vem de longe.
Quando o norte da Itália estava sob jugo do Império Austro-Húngaro, soldados austríacos de ocupação punham água com gás no vinho branco local para aproximar o teor alcóolico ao de uma cerveja, bebida que tomavam desde o berço. A proporção desse spritzer, como era chamado, era de meio a meio.
O Aperol foi criado em 1919, em Pádua. O nome vem do francês apéritif. Não à toa, já que um de seus principais ingredientes estimula as papilas gustativas. É a genciana, uma planta que nasce principalmente nos Alpes e Pirineus, usada como remédio desde os tempos dos faraós, como atestam os papiros.
Também está na fórmula da Angostura, do Suze, do Amaro Averna e de tantos outros, além do Campari, cuja empresa comprou o Aperol. Nos EUA, a genciana dava graça ao Moxie, um refrigerante que chegou a ser tão popular quanto a Coca-Cola. Virou, inclusive, gíria para "energia".
Algo que não falta para a inesquecível Tanya de White Lotus —mesmo nos surtos de melancolia, ela é uma força destrambelhada da natureza.
A ela.
Aperol Spritz
60 ml de Aperol
90 ml de prosecco
30 ml de água com gás
Adicione os ingredientes numa taça de vinho com gelo e decore com uma rodela de laranja.
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