Ela aparece na porta do bar, num micro vestido rosa, com um decote cinemascope. Dois sujeitos a observam jogar a bolsa de oncinha numa mesa e sentar-se sozinha, cruzando as pernas faiscantes. Um deles vai até ela e pergunta: "Posso te trazer um drinque?".
Ciente do alvoroço que causa em cada lugar que entra, ela responde: "Você nem quer saber quem eu sou e já vai me convidando para beber? Eu posso ser o anticristo, sabia? Eu posso ter a inteligência de uma ameba! Então, porque você veio até aqui com essa proposta?"
Constrangido, ele diz, "Bom, porque eu sou o bartender."
A cena, com Jennifer Love Hewitt —que acaba pedindo um martíni, "bem seco"— está em "Doce Trapaça". Na comédia de 2001, Sigourney Weaver é sua mãe, uma golpista com um arsenal de encantos, da cinta-liga ao melhor conhaque. Milionários tolos são seu alvo preferido, dentre eles Gene Hackman e Ray Liotta, impagáveis.
Vê-se que as mãos que derrotam aliens tenebrosos manejam igualmente bem taças de champanhe e martínis. Com olhar sexy, altivez aristocrática e rosto intrigante, Weaver, 73 anos neste sábado (8), é uma atriz rara, de rara beleza. A boca entreaberta é sua marca: pronta para o sorriso ou uma tirada irônica. Nunca se sabe o que esperar dela, e essa ambiguidade enche a tela.
Depois de pular dos palcos de teatro para os labirintos da Nostromo, brilhou em "O Ano Em Que Vivemos Perigosamente" (1982), filme que se passa na Indonésia.
O ano, 1965, é de muita tensão política. Culminaria com a queda do presidente Sukarno, em meio a tremenda violência. Ela interpreta uma diplomata inglesa que se envolve com um correspondente australiano (Mel Gibson, quando ainda era legal).
Num dado momento, eles se encontram para um drinque. Começa uma chuva torrencial e o garçom traz dois copos, que eles levam para o carro. "O que é isso?", ele pergunta, tomando um gole. "Um troço verde", ela responde, rindo. É provável que fosse algo com suco de abacaxi, comum na região.
O cenário se alterna entre a miséria das favelas e a festividade alheia das embaixadas, onde se toma uísque e vinho. No clube dos ingleses, um coronel dá bronca no garçom porque trouxe gim-tônica com gelo", coisa de americanos, impensável!". Gibson, bem mais empático com a população local, aceita o copo. Conquistou ali a mulher que todos sempre querem conquistar (inclusive os fantasmas de "Ghostbusters").
Em "Uma Secretária de Futuro", filme de 1984, com os piores cabelos da história do cinema (estilo poodle e laquê), Weaver faz a vilã sofisticada, em oposição à mocinha inteligente e caipira de Melanie Griffith. Quando quebra a perna esquiando, a executiva esnobe passa os dias no hospital bebendo champanhe, num quarto lotado de admiradores.
Divertido é ver Harrison Ford virando doses duplas de tequila como se fosse suco de agave, sem álcool. E dois singapore slings seguidos, num momento de nervosismo, em uma festa de motivos kitsch-tropicais.
A atriz estudou literatura inglesa e tirou seu novo nome (o antigo era Susan) de uma personagem secundária do "Grande Gatsby", romance encharcado de coquetéis. E isso aos 11 anos. Opositora ferrenha de Trump, deve estar horrorizada com o conservadorismo brasileiro.
Também, pudera. Cheers, Mrs. Weaver!
Bali Rum Trader (receita do Difford's)
- 50 ml de rum dourado
- 25 ml de licor de banana-verde
- 25 ml de suco fresco de abacaxi
Passo a passo
Bata os ingredientes com gelo e coar para uma taça coupe gelada. Decorar com uma fatia fina de banana.
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