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A inflação não importa

Ela é mundial; os governos imprimiram dinheiro demais

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Inflação! Essa palavra irrita eleitores em todo o mundo e os faz dar ouvidos à tentação do populismo. Neste domingo, a França vai escolher entre Macron e Le Pen, entre um democrata e uma autoritária. A França?! Com uma taxa de inflação de pouco menos de 4%?! Enquanto os ucranianos morrem às centenas todos os dias para defender a democracia, os eleitores franceses, aborrecidos por terem que pagar um pouco mais pelo pão e a gasolina, olham dentro do abismo e sentem-se tentados a aventurar-se nele.

Em meu próprio país, o Partido Republicano foi tomado por autoritários à moda de Trump, Bolsonaro e Putin. Os democratas de Biden, que pelo menos são democráticos, encaram uma derrocada arrasadora nas eleições de novembro próximo, isso por conta de uma taxa de inflação de 8%. Cuidado: a inflação brasileira está por volta de 10%.

Tudo isso é tolice, por dois motivos. As pessoas, até mesmo alguns economistas equivocados, dirão coisas como "os preços estão subindo tão rápido que os salários não conseguem acompanhá-los". Elas têm razão em ficar de olho nos salários "reais", ou seja, a quantidade física de bens e serviços reais que seu salário pode comprar. Quantos litros de gasolina. Mas a macroeconomia não é uma competição desenfreada entre salários e preços. Seu salário real depende de sua produtividade real e da escassez da oferta, não de quantos zeros são acrescentados a uma cédula de R$ 100.

E há outra coisa: a inflação é de fato mundial. Os governos imprimiram dinheiro demais. Num caso raro em que um ditado acerta em termos de economia, há dinheiro demais correndo atrás de mercadorias de menos. Nem Macron, nem Biden, nem sequer Bolsonaro conseguem dar um jeito nisso.
Em um mundo de taxas de câmbio fixas entre, digamos, o dólar e o real, todos teriam a mesma taxa de inflação. É por esse motivo que Bahia e Rio Grande do Sul, Nova York e Califórnia têm mais ou menos a mesma inflação.

As coisas só saem do controle, como aconteceu no Brasil nas décadas de 1960 e 1980, com inflação anual de 100%, se as taxas de câmbio podem flutuar. Em um nível tão alto, a inflação começa a confundir as pessoas seriamente em relação às escassezes reais.

Quando os astronautas americanos chegaram à Lua, encontraram um brasileiro. Espantados, perguntaram como ele chegara ali. "Peguei carona nos preços brasileiros." Mas como você vai voltar? "De carona na taxa de câmbio brasileira."

Mas isso não acontece hoje em dia. A inflação não tem importância. Relaxe —e não vote em outro autoritário.

Tradução de Clara Allain

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