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Crianças e adolescentes trans na vida real

Eu sou uma mulher trans. Fiz a transição em 1995.

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Contei a vocês uma vez sobre um debate de uma hora do qual participei no verão passado com Kathleen Stock diante de estudantes da nova Universidade de Austin, Texas. Kathleen foi levada a abandonar sua cátedra na Universidade de Sussex, na Inglaterra, por alunos e membros do corpo docente que repudiaram suas opiniões sobre mulheres trans. Eu sou uma mulher trans. Fiz a transição em 1995.

Kathleen e eu discordamos completamente. Mas em nosso debate por vezes acalorado seguimos o espírito das palavras do monge americano Thomas Merton, que escreveu em 1947: "Se eu insistir em lhe transmitir minha verdade e nunca parar para receber sua verdade em contrapartida, não poderá haver verdade entre nós".

Eduardo, menino trans em São Paulo - Karime Xavier - 13.mai.22/Folhapress

Contrariamente ao que você provavelmente pensa, a verdade é que há mais ou menos tantos homens trans quanto mulheres trans. E o desejo de mudar nosso gênero, conforme definido por genes XX ou XY, é muito mais comum do que se acreditava no passado. Talvez esteja presente em uma entre cada poucas centenas de pessoas nascidas.

Kathleen e eu concordamos até aqui. Também concordamos, e espero que você também, que, nas palavras dela, devemos "afirmar com alegria e força os direitos das pessoas trans de viver suas vidas livres de medo, violência, assédio ou qualquer discriminação".

Mas ela pensa que não se deve permitir que crianças e adolescentes façam a transição. Afinal –reproduzo aqui as opiniões mais toscas da colunista antitrans do Times de Londres, Janice Turner, e não qualquer coisa que uma pensadora cuidadosa como Kathleen diria--, crianças não podem fazer julgamentos. Eu digo que elas podem, sim. Alguém que nasceu menina e que passa anos e anos dizendo "sou menino" deve ser levado a sério.

E Kathleen –ou, melhor, Turner— diz que a transição "é irreversível". Não é. Eu reverti aos 53 anos de idade. E muitos tratamentos dados a crianças são na realidade muito mais irreversíveis, como não ler livros para elas. Será que os políticos brasileiros, britânicos ou texanos deveriam, então, promulgar uma lei exigindo que você leia a seus filhos?

E Kathleen fala, desta vez em suas próprias palavras, que muitas mulheres trans "sentem atração sexual por mulheres e não deveriam estar em locais onde mulheres tiram a roupa ou dormem sem restrições". Oh, Kathleen. Quer dizer que mulheres lésbicas tampouco deveriam estar nesses espaços?

E assim por diante.

Kathleen e eu encerramos nosso debate com um abraço, algo que é opcional. Mas ouvir não é.

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