Deirdre Nansen McCloskey

Economista, é professora emérita de economia e história na Universidade de Illinois, em Chicago

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Deirdre Nansen McCloskey

Também os EUA escaparam do fascismo por pouco

Além trapacear e usar violência como instrumento político, fascistas cultivam a Grande Mentira

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Você com certeza soube das eleições nos Estados Unidos no último 8 de novembro.

Nós, americanos, temos nossas eleições numa terça-feira, um dia que não é feriado, diferentemente de vocês, brasileiros sensatos, que as fazem num domingo. A razão vem de muito tempo atrás na história agrícola do meu país, e isso nunca foi mudado porque os republicanos querem impedir as pessoas pobres de ir às urnas. Vergonhoso.

Seja como for, nesta eleição evitamos por pouco um mergulho mais fundo no fascismo. Os fascistas não respeitam o resultado das eleições. Eles honram o Fuhrer, incentivam o ódio por uma minoria, praticam trapaças e violência como instrumento político e, sobretudo, cultivam a Grande Mentira. No caso de Trump e de Bolsonaro, é "sim" em todos os cinco quesitos.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump e o presidente Jair Bolsoanro durante encontro do G20, em Osaka, em 2019 - Brendan Smialowski - 28.jun.19/AFP

Hitler descreveu a técnica da Grande Mentira (große Lüge) em seu livro "Mein Kampf" ("Minha Luta"). Invente uma mentira sobre os judeus, a Covid, os ucranianos ou os negros que seja tão absurda e desmedida que ninguém vai acreditar que alguém "possa ter a ousadia de distorcer a verdade de modo tão infame". E é assim, paradoxalmente, que a Grande Mentira ganha plausibilidade.

As "grandes massas... se rendem mais facilmente à Grande Mentira que à mentira pequena, já que elas próprias frequentemente contam pequenas mentiras sobre questões de pouca monta, mas teriam vergonha de recorrer a falsidades em grande escala".

Os candidatos de Trump fracassaram, assim como Bolsonaro fracassou. Em ambos os casos, foi por pouco; no momento em que escrevo este texto, o equilíbrio de forças entre os partidos no Congresso americano não está inteiramente claro. Temos muito a fazer para barrar ou converter aquele mais ou menos um quarto dos eleitores em ambos nossos países que amam o fascismo.

Nem Biden nem Lula são meus ideais. FHC e Obama, que trataram as pessoas como se fossem adultos sensatos, não crianças revoltadas, recebem o selo de aprovação de Deirdre. Biden e Lula querem ampliar o Estado mais e mais para dar doces às crianças. Mas pelo menos não tentam incitá-las para fomentar um fascismo execrável.

Nos Estados Unidos também houve uma "onda arco-íris" animadora (me conte o que aconteceu no Brasil). Houve 714 candidatos LGBTQ declarados, e 436 deles venceram suas disputas. Vossa repórter foi uma das que perdeu. Recebi um pouco menos de 2% do voto para "comptroller" (executiva financeira chefe) do estado do Illinois. Mas se tivesse ganho, eu teria pedido uma recontagem dos votos. Em todo caso, 436 eleitos nos afastam de um passo a mais do fascismo.

Tradução Clara Allain

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