No final de outubro participei de uma discussão de três horas em Nova York sobre o futuro do liberalismo, promovida pela revista americana Harper’s. O eloquente esquerdista Cornel West foi um dos participantes, meu amigo, o liberal Francis Fukuyama, foi outro, e o quarto foi o filósofo político católico conservador Patrick Deneen.
Em 2018 Deneen escreveu um livro que atraiu muita atenção, "Por que o liberalismo fracassou?". O trabalho inspirou o título de meu próprio livro de 2019, "Why Liberalism Works: How True Liberal Values Produce a Freer, More Equal, Prosperous World for All" (Por que o liberalismo funciona: como os verdadeiros valores liberais criam um mundo mais livre, igualitário e próspero para todos).
Em seu livro, Deneen identifica o liberalismo com a modernidade, corretamente. Mas ele detesta a modernidade e quer voltar à teocracia, à vida nos vilarejos, às mulheres na cozinha. Na discussão na Harper’s ele rejeitou essa caracterização, indignado. Disse que quer avançar para o futuro, não retornar ao passado. Mas o futuro dele se parece muito com o passado pré-liberal.
Então, querendo uma resposta ponderada, perguntei a Deneen que alternativa ao liberalismo ele propõe. Para surpresa minha, ele não teve resposta a dar. Em vez disso, lançou-se em mais uma diatribe sobre os males do liberalismo.
Os conservadores vociferam contra o liberalismo, como em "Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community" (2000) (Jogando boliche sozinhos: o colapso e o ressurgimento da comunidade americana), de Robert Putnam, ou "The Closing of the American Mind: How Higher Education Has Failed Democracy and Impoverished the Souls of Today’s Students" (1987) (O fechamento da mente americana: como o ensino superior traiu a democracia e amesquinhou a alma dos estudantes de hoje), de Allan Bloom, ou ainda "The Culture of Narcissism: American Life in an Age of Diminishing Expectations" (1979) (A cultura do narcisismo: a vida americana numa era de expectativas decrescentes), de Christopher Lash.
Mas eles não têm resposta a dar à pergunta de que espécie de sociedade, de política ou mesmo de teoria econômica propõem no lugar da não-escravidão, do respeito mútuo, da igualdade de permissão e do livre mercado.
O liberalismo era o que havia de novo no final da década de 1700 e que foi implementado lentamente, imperfeitamente, na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos, França e, mais tarde, no Brasil. Ele resultou num aumento de 3.000% no âmbito material da vida humana. E, factualmente falando, contrariamente ao que dizem os antiliberais, que abrangem desde acadêmicos íntegros como Deneen até tiranos perversos como Putin, não levou à decadência espiritual.
Você não quer o iliberalismo de Bolsonaro e agora de Lula, quer? Fala sério.
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