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Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.

Descrição de chapéu Coronavírus AIDS

Duas pandemias, muitas lições

Semelhanças entre a Aids e a Covid-19 podem ajudar a encontrar soluções mais rápidas

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Saltam aos olhos muitas semelhanças entre duas diferentes pandemias: a de Aids e a de Covid-19.

De acordo com a OMS, entre 24,8 milhões e 42,2 milhões de pessoas já morreram de Aids até 2020, especialmente na África. O impacto é imenso, com cerca de 1,7 milhão de novos infectados pelo HIV em 2020, a despeito de medidas eficazes de prevenção disponíveis. Entretanto, após mais de 30 anos de enfrentamento da pandemia de Aids, muitos aprendizados foram acumulados, a duras penas.

Assim como para o HIV, a testagem é importantíssima para o novo coronavírus. Realizar o diagnóstico rápido e preciso é a base da grande maioria das medidas de prevenção e tratamento. É por isso que disponibilizar testes de fácil realização e prevenção é tão importante. Demoramos décadas para tornar disponíveis testes de HIV em farmácias, por exemplo, algo que foi solucionado muito mais rapidamente para a Covid-19, muito embora o acesso ainda seja limitado para a maioria da população.

Logotipo na entrada de prédio da Unaids, programa das Nações Unidas para a Aids, em Genebra, na Suíça - Denis Balibouse - 6.abr.21

Medidas não farmacológicas ajudam. Máscaras reduzem a chance de contrair o novo coronavírus, assim como preservativos são barreiras na relação sexual, capazes de reduzir a chance da infecção pelo HIV. As grandes limitantes são a frequência e a forma com que as pessoas aderem ao uso correto, tanto da máscara quanto da camisinha. Por isso, há necessidade de abordar tais temas com frequência e ensinar a melhor forma de tirar proveito desses recursos.

Igualmente importante é a implementação do conceito de redução de danos. Se há algum comportamento recorrente que aumenta a vulnerabilidade em adquirir a infecção por HIV ou pelo novo coronavírus, parece ser mais eficiente encontrar meios de mitigar tal comportamento do que unicamente incriminá-lo.

É imprescindível estarmos atentos à compensação de risco. Expectativas falsas ou precipitadas podem resultar em adaptação do comportamento e, consequentemente, no aumento da transmissão. Um exemplo é a disponibilização de vacinas para Covid-19, que pode trazer sensação de segurança e, consequentemente, afrouxamento das medidas individuais. Políticas de implementação precisam andar juntas com manutenção do reforço às medidas contra a disseminação do novo coronavírus.

Combater o preconceito. Para as duas doenças, não cabe estigmatizar a origem do vírus, nem o comportamento das pessoas. Quando a culpa da disseminação recai sobre pessoas que não entenderam alguma mensagem, é porque algo vai mal na comunicação com o público. Campanhas de esclarecimento e adequação da linguagem de informação fazem parte de estratégias que dão certo.

O investimento em medidas farmacológicas é fundamental. Profilaxia pré-exposição, profilaxia pós-exposição, uso de antivirais potentes na hora certa e desenvolvimento de vacinas são estratégias centrais para ambas as pandemias.

Investir em ciência traz frutos. A descoberta dos antirretrovirais contra o HIV permitiu o controle da multiplicação do vírus nos pacientes infectados, assim como o desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19 vem demonstrando que sua aplicação começa a oferecer controle e redução nas suas taxas de infecção e morte.

Finalmente, ampliar o debate interdisciplinar em saúde coletiva só traz ganhos. Ter especialistas em combate às infecções sexualmente transmissíveis contribuindo para a busca de estratégias também em doenças de transmissão respiratória nutre ambos os lados com boas ideias, economizando muito tempo para, mais rapidamente, encontrarmos soluções para as duas pandemias.

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