Siga a folha

Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.

Descrição de chapéu AIDS

O que nos conta o quarto caso do paciente que se curou do HIV/Aids

Eliminar o HIV de uma pessoa vai deixando de ser um mero acaso

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Pessoas que recebem o diagnóstico de HIV/Aids são orientadas a iniciar seu tratamento tomando remédios específicos, o chamado "coquetel". São medicamentos que controlam a multiplicação do vírus e permitem que a vida normal seja resguardada, possibilitando a manutenção da integridade física, o planejamento de família e filhos.

Mas paira sempre a pergunta, frequente nas consultas médicas: quando chegará a cura? Embora se diga que a infecção tenha um ótimo controle para quem faz o acompanhamento médico e toma remédios regularmente, persiste a ameaça do preconceito, discriminação e estigma. Além da necessidade de uso permanente dos remédios, sem prazo para parar, podendo trazer alguns efeitos colaterais.

Teremos uma cura? Ela existe e foi documentada inicialmente no "paciente de Berlim". Timothy Ray Brown revelou ao mundo ter sido o primeiro paciente curado, após ter descoberto uma leucemia e ser submetido a tratamento com dois transplantes de medula óssea, na Alemanha.

Timothy Brown, conhecido como 'paciente de Berlim', primeiro paciente curado de HIV após um transplante de medula óssea - Patricia Stavis - 12.abr.19/Folhapress

Foram muitos anos servindo como voluntário para testes e disseminando a ideia de que a cura é possível até, infelizmente, a leucemia recidivar e tirar sua vida, em setembro de 2020. Ele chegou a visitar São Paulo, onde engajou estudantes e pesquisadores na causa da cura, com entrevistas e debates com a imprensa.

Depois de Timothy ter sido curado, três outros casos parecidos ocorreram. Dois adultos e uma criança que viviam com HIV e descobriram estar com doença hematológica grave, que exigia transplante de células tronco hematopoiéticas, popularmente conhecido como transplante de medula.

O caso mais recente de cura foi anunciado durante o Congresso Mundial de Aids, que está ocorrendo em Montreal, no Canadá. Trata-se de um homem de 26 anos que vivia com HIV e foi diagnosticado com leucemia. Passadas 26 semanas após o transplante de medula, mesmo tendo suspendido o uso dos remédios do coquetel, o HIV não mais foi encontrado em seu sangue.

Em todos os quatro casos há algo em comum. Os doadores do material para o transplante têm uma mutação conhecida como CCR5delta32. Com ela, as células de defesa não apresentam um dos receptores essenciais para que o HIV se ligue, estabelecendo uma barreira à multiplicação viral.

O caso inicial do "paciente de Berlim" deixou de ser somente uma coincidência. Com quatro casos, a cura passa a figurar como um conceito possível. Mas não há como fazer transplante de medula em todos que têm o vírus.

O transplante de medula é uma das intervenções mais radicais na medicina. Basicamente, troca-se todo o sistema de produção dos elementos do sangue do paciente pelo do doador. Com isso, tenta-se eliminar células cancerígenas que deram origem, por exemplo, a uma leucemia. Para este procedimento, é necessário que os hematologistas também "desliguem" todo o sistema de defesa do paciente quando o substituem por um novo.

Dessa forma, os transplantados perdem temporariamente sua capacidade de reação a germes, ficando sujeitos a infecções graves. Outras complicações envolvem reações contra alguns órgãos e tecidos, em decorrência da mudança radical de seu sistema imune. Ainda, 10% a 20% dos pacientes podem morrer no primeiro ano após o transplante.

Por tudo isso, não há como generalizar a indicação de transplante de medula para todas as pessoas que vivem com o vírus. Estes citados ainda são casos isolados, que preenchem uma série de condições.

Entretanto, com estes casos, embora raros, um caminho de investigação foi definitivamente aberto. Que o esforço de Timothy tenha valido a pena.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas