Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.
Eleitor pode levar nova facada pelas costas, ou coisa pior
Um presidente impopular ou com pecha de traidor poderá custar caro ao país
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Das duas, uma: ou os brasileiros levarão mais uma facada pelas costas depois das eleições ou, coisa pior, viverão uma crise de proporções inéditas relacionada à ruína dos serviços públicos de que necessitam.
Desde a redemocratização, a regra tem sido a da facada, de traição ao eleitor.
Fernando Collor confiscou a poupança, FHC 2 desvalorizou o real após a reeleição, Lula 1 adotou a cartilha do FMI e Dilma 2 chamou um executivo do Bradesco para fazer o ajuste fiscal.
Nada disso tinha sido combinado ou informado previamente.
Falar que o país precisa de ajustes, todos falam, com gradações. Mas é de lamentar que ninguém desça a detalhes mínimos a pouco mais de quatro meses da eleição.
“Não temos um esboço. É cedo para falar”, disse Persio Arida, coordenador do programa de Geraldo Alckmin (PSDB), em entrevista à Folha sobre a reforma da Previdência.
“Não quero dar detalhes”, foi outra resposta, sobre retirar da Constituição vinculações obrigatórias entre receitas e gastos em saúde e educação.
Marina Silva (Rede) fala de mais impostos para os ricos. Como? Ciro Gomes (PDT), de aumentar o poder de indução do Estado sobre o crescimento. Com mais isenções de um governo falido? Jair Bolsonaro (PSL) simplesmente não fala.
Na atual conjuntura, ajuste equivale a perdas consideráveis para grupos ou pessoas.
Como ele deve ser enorme, equivalente a uns R$ 250/300 bilhões por ano que o país precisa para sair da rota da insolvência, é muita gente que vai perder estando mal informada.
O desequilíbrio fiscal é de tal ordem que o gasto da União com Previdência, servidores e outros benefícios saltou de 57% da receita líquida em 2010 para 77,5% agora. Dos 20,5 pontos de aumento, 16 decorreram do Regime Geral de Previdência Social.
Isso deprimiu os investimentos em infraestrutura e custeio da máquina para o menor valor em quase meio século.
Não estamos longe de a administração como um todo começar a parar, apesar de 70% da população depender, por exemplo, do SUS.
O percentual (70%) é o mesmo dos eleitores em famílias que ganham até R$ 2.800/mês, o que dá a dimensão da dependência que eles têm de escolas, hospitais e transporte públicos.
Tudo isso será agravado por uma massa de aposentados nos estados que vem aí, onerando ainda mais suas previdências já deficitárias e tirando pessoal dos balcões de atendimento.
Como sair dessa armadilha é do que a campanha deveria tratar. Mas o padrão do estelionato eleitoral deve ser mantido, parece.
A estratégia tem riscos.
Quando Dilma 2 traiu o eleitorado, sua taxa de reprovação pulou de 24% no pós eleição para 71% em menos de um ano, superando o recorde de Collor em 1992. Foi o começo do fim da petista.
Como as mudanças necessárias (Previdência ou desvinculação de receitas de gastos obrigatórios) precisarão de 3/5 dos votos dos parlamentares, ser um presidente impopular ou com pecha de traidor poderá, mais uma vez, custar caro ao país.
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