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Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.

Mundo precisa dar um jeito em Gotham City

Desigualdade cresce há 40 anos, mas é promissor que ela ganhe centralidade nos EUA

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Houve aplausos ao final da minha sessão de “Coringa” no sábado. Por conta de outros momentos, as palmas pareceram destinadas mais à revolta popular em que o filme termina do que ao conjunto da obra.

“Coringa” é maniqueísta ao contrapor pessoas solitárias e desassistidas em Gotham City a elites ricas e desalmadas. Mas captura o espírito do tempo: levou o Leão de Ouro no festival de Veneza e já arrecadou US$ 600 milhões, segundo a Forbes.

 

O sinal dos tempos combina empregos precários, endividamento familiar recorde e explosão da desigualdade de renda em quase todo o mundo.

Isso já desaguou em respostas populistas equivocadas; à frente Donald Trump e seu corte de US$ 1,6 trilhão de impostos dos ricos e a confusão do brexit, que machucou a economia britânica.

O quadro é mesmo desolador: classes médias espremidas e enorme concentração de renda em um mundo cada vez mais quente e degradado, onde as respostas estruturadas da segunda metade do século 20 parecem ter dado lugar a pulsões negativas e a um darwinismo hostil.

Mas é preciso ter em perspectiva que os confusos últimos dez anos foram antecedidos pelo mais longo ciclo de melhora econômica global desde a Segunda Guerra.

Aquele período, interrompido pela crise de 2008-2009, de fato acelerou a concentração de renda. Mas também tirou milhões de pessoas da miséria, sobretudo na Ásia, na América Latina e na África. 

Há 40 anos a desigualdade cresce no mundo, mas agora parece promissor que o tema finalmente tenha sido central no debate de terça (15) entre os pré-candidatos democratas para a eleição do ano que vem nos EUA. 

A senadora por Massachusetts Elizabeth Warren, que desponta como uma das favoritas à indicação do partido, voltou a defender uma taxação progressiva, no que foi acompanhada pela maioria dos postulantes.

Seu plano é uma nova taxa de 2% para patrimônio familiar acima de US$ 50 milhões (R$ 205 milhões) e de 3% para os maiores que US$ 1 bilhão (R$ 4,1 bilhões), com potencial de arrecadar US$ 2,75 trilhões em dez anos para políticas sociais. 

Vários pré-candidatos também prometeram aumentar o salário mínimo nos EUA e fortalecer os sindicatos, cujo declínio seria um dos motivos para a desigualdade recorde no país.

A greve da General Motors também entrou no debate. Em setembro, e pela primeira vez em 12 anos, a United Auto Workers levou 48 mil funcionários da montadora a uma greve por melhores salários, obrigando a empresa a oferecer aumentos e benefícios aos grevistas.

Dias antes, a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) já havia proposto uma remodelação da tributação global para impedir que gigantes empresariais transfiram lucros pelo mundo para pagar menos impostos. 

Isso também limitaria a chamada “fuga para o mais barato”, quando uma empresa fabrica ou opera em territórios com tributação menor e mão de obra mais em conta para vender produtos em mercados lucrativos.

A história é pendular e não será o Batman a dar um jeito nas coisas. Os resultados de iniciativas como essa e a eleição nos EUA serão definidores do que vem por aí. To be continued…

 

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