Fernando Canzian

Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.

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Fernando Canzian

Brasil precisa ficar longe da porta do bar

País não deve cair na tentação de acelerar crescimento sem terminar ajustes

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Houve um tempo em que crises eram associadas a bebidas. Tomadas em excesso, destruiriam não só os países bebedores, mas levariam à sarjeta vizinhos vulneráveis.

Após o lançamento do Plano Real, em 1994, o Brasil sofreu com o “efeito tequila” da quebra mexicana. Em 1997, foi perseguido por tigres asiáticos em crise (Tailândia, Malásia e Coreia) e, no ano seguinte, pelo “efeito vodka” da Rússia.

Não demoraria para chegarmos à caipirinha no mesmo 1998: o Brasil quebrou e recebeu o maior empréstimo até então do FMI, de US$ 41,5 bilhões. Mesmo assim, o real sofreria forte desvalorização em 1999.

 

Em 2001 veio o “efeito tango”, e a Argentina quebrou abandonando a paridade 1 para 1 entre dólar e peso. Sem resolver problemas de fundo, viveu em crise até sucumbir de novo em 2018, tornando-se agora recordista no Fundo, com um papagaio de US$ 56,3 bilhões.

Nesta semana, a ex-diretora-gerente adjunta do FMI Anne Krueger comparou a Argentina a um doente crônico com uma vida desregrada. Ao sair do médico com receita de dez dias de antibiótico e moderação, tomou três dias do remédio e sentiu-se bem. Voltou à farra e acabou na UTI.

Se os coquetéis do passado saíram de moda, a analogia de Krueger é um alerta ao Brasil no momento em que e alguns chamam o país de volta ao bar. Justamente quando o tratamento começa a dar resultado.

Na terça (24), a Receita Federal anunciou alta de 1,54% na arrecadação em agosto, já desconsideradas receitas atípicas. O melhor resultado em cinco anos é quase o dobro do PIB previsto (0,86%). No ano, a receita subiu 2,4% ante 2018, revelando a recuperação a caminho.

Um crescimento mais acelerado seria desejável. Mas o risco de buscar isso com mais gasto público é o de acabarmos no chão antes mesmo de levantar.

Com 93% das despesas federais consumidas por gastos obrigatórios que crescem há décadas acima da inflação, não há alternativa a não ser perseverar no ajuste e reformar. Primeiro a Previdência; depois, o Estado e regras para o funcionalismo.

Nesse caminho, o que importa são os sinais: juro real mais baixo da história, com menor pressão sobre a dívida pública; inflação abaixo da meta; risco-país no patamar mais confortável em seis anos.

Em qualquer ciclo de melhora, o último a se manifestar é sempre o emprego. Em agosto, com 121,4 mil novas vagas, o país teve o melhor saldo em seis anos. Já o resultado das empresas com ações na Bolsa foi o melhor desde 2010.

É isso o que interessa –e passar longe da porta do bar.

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