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Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

A Faixa de Gaza e o silêncio

Manter a cartilha do século passado condena os palestinos ao fracasso

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Manifestante palestino caminha entre pneus queimando durante confronto com as forças de Israel na fronteira com a Faixa de Gaza na sexta - Mahmud Hams - 18.mai.18/AFP

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A "grande marcha" do Hamas, grupo fundamentalista no poder desde 2007 na Faixa de Gaza, começou em 30 de março, com concentração de milhares de manifestantes na fronteira com Israel.

Naquele dia, 29 pessoas morreram, após reação israelense.

O roteiro trágico previa a repetição dos protestos a cada sexta-feira, com o ápice agendado para 14 de maio, quando dos 70 anos da independência do Estado judeu.

Na segunda passada, mais 62 mortes, segundo fontes palestinas.

Ao longo de seis semanas da "grande marcha", a tragédia se consolidou, como que em câmara lenta. E, apesar do enorme lapso temporal, não se verificou intensa pressão internacional para mudar a estratégia do Hamas. Assistiu-se, cinicamente, ao desfecho funesto.

Por que, ao longo de mais de 40 dias, grupos pró-direitos humanos, partidos de esquerda e outras organizações a bradarem preocupação com vidas e com a paz não exerceram uma blitz política sobre o Hamas, para garantir o caráter pacífico da manifestação em Gaza?

Qual a intensidade de textos e análises jornalísticas exortando palestinos a exercer o legítimo direito de protesto sem, por exemplo, ameaçar derrubar a cerca da fronteira?

Nos protestos, discursos do Hamas pediam a queima de pneus, numa cortina de fumaça para lançamento de coquetéis molotov.

Entre os 62 mortos na segunda-feira, 50 integravam o grupo fundamentalista, afirmou Salah Bardawil, dirigente do Hamas, em entrevista à Baladna, canal de TV de Gaza.

Derrubar a cerca significaria tragédia colossal. Milhares de pessoas cruzariam a fronteira, sob a bandeira do Hamas, organização a defender a destruição de Israel.

Infelizmente, o tom da "grande marcha" não se inspirava em teses gandhianas ou na estratégia de negociação de Nelson Mandela.

O movimento palestino, sobretudo sob a liderança do Hamas, incorre em erro histórico. Sustenta a visão ultrapassada de "movimento de libertação nacional", em voga na luta contra potências coloniais, no século 20.

Baseada em luta armada e no desdém pela vida de civis, a estratégia guiou guerrilheiros em vários capítulos sangrentos da história contemporânea.

Manter a cartilha do século passado condena os palestinos a fracassar na construção de um país.

Primeiro, porque a fórmula foi vencida pela história. Segundo, porque Israel, ao contrário do que imaginam alguns de seus detratores, está longe ser uma empreitada colonial. É simplesmente o exercício de soberania de um povo em sua terra ancestral.

A busca da solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino passa necessariamente pelo fim da fracassada estratégia do Hamas.

Ataques com foguetes e atentados terroristas fortalecem, na sociedade israelense, forças políticas refratárias ao diálogo e em alta nos últimos anos, eclipsando setores empenhados em construir canais de diálogo.

Em 1948, a partir de decisão da ONU, Israel proclamou sua independência e, na sequência, foi atacado por cinco países árabes. Sete décadas depois, já está na hora de o movimento palestino pensar em novas estratégias.

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