Críticos de governos locais sofrem na Palestina e em Israel

No lado palestino enfrenta prisão e tortura, enquanto israelenses sofrem perseguição política

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De roupa preta e véu branco, mulher aparece andando entre fumaça preta vinda de pneus queimando
Mulher palestina caminha em meio a pneus em chamas durante protesto na faixa de Gaza contra a mudança da embaixada dos EUA para Israel - Khalil Hamra - 14.mai.18/Associated Press
Madri e Tel Aviv

Desde a criação do Estado de Israel, em 1948, tanto israelenses quanto palestinos criticam uns aos outros pelo conflito ininterrupto em sua região.

O atrito voltou a ser latente com a comemoração, pelos israelenses, do 70° aniversário do país, que os palestinos chamam de Nakba ("catástrofe", em árabe).

Mas outro tipo de crítica costuma receber menos atenção: aquela feita por israelenses e palestinos a seus próprios governos, pela qual, às vezes, pagam altos preços.

Segundo oposicionistas, eles enfrentam ameaças de grupos extremistas, assédio em redes sociais e perseguição política (do lado israelense), além de repressão, prisões e até mesmo assassinatos sumários (do lado palestino).

O ativista Issa Amro, 38, é um dos exemplos recentes de como a Autoridade Palestina trata conterrâneos que a criticam. No ano passado, foi temporariamente preso por seu próprio governo porque reclamou das autoridades palestinas no Facebook após a detenção de um jornalista crítico ao governo.

Ele foi acusado de "perturbar a ordem" e "insultar as mais altas autoridades".

"Deveríamos ter o direito de escrever sobre algo com que não concordamos", diz à Folha Murad Amro, 29, primo de Issa. "Está cada vez mais difícil lidar tanto com israelenses quanto com palestinos."

A situação envolve ainda um terceiro ator: a facção palestina Hamas, que governa a faixa de Gaza com mão de ferro desde 2007. Ali, as críticas feitas às autoridades são punidas de forma mais violenta.

Foi o que aconteceu com o jornalista Mohammad Othman, 30, que trabalhava na Cidade de Gaza. Em 2006, ele escreveu uma reportagem contra a facção —foi detido na frente de suas filhas e, afirma, torturado.

A detenção durou um dia. Na soltura, as autoridades avisaram-no que não deveria voltar a criticá-las. Dois meses depois, ele fugiu. Esteve em Egito, Equador e Bélgica.

De acordo com a Anistia Internacional, 23 palestinos foram mortos pelo Hamas em 2014 por "colaboração com Israel". Em 2017, houve mais três assassinatos.

Segundo o Índice de 2018 dos Jornalistas Sem Fronteiras, a Palestina está em 134° lugar entre 180 países: "Interrogações e detenções sem qualquer acusação fazem parte do preço que os jornalistas pagam pela rivalidade política entre o Fatah e o Hamas nos territórios palestinos", diz a entidade que, desde 2002, mede nível de liberdade da mídia, pluralismo, autocensura e infraestrutura para a produção de notícias.

Israel ocupa o 87° lugar no índice: "A mídia é livre, uma raridade no Oriente Médio. No entanto, os jornalistas estão sujeitos à censura militar e à hostilidade dos membros do governo".

É o que diz o professor emérito de psicologia política Daniel Bar Tal, da Universidade de Tel Aviv, que sentiu na pele o antagonismo de seu governo quando, em 2012, assinou um documento no qual afirmava que os livros escolares israelenses, não só os palestinos, demonizam o outro lado (mesmo que não na mesma proporção).

Foi taxado de "mentiroso" pelo ex-ministro da Educação, Guideon Saar, e assediado no Facebook por ativistas de extrema direita, com desejos de que ele fosse para um "campo de extermínio para morrer num crematório".

"Há uma narrativa hegemônica que explica o que é o conflito, glorifica o lado israelense e classifica de terrível o inimigo do outro lado. O governo atual tenta reforçar essa narrativa. Luta contra quem tenta levar ao povo informações contrárias", diz Bar Tal. "Não há prisões como na Turquia, mas há perseguição a ativistas, artistas e a quem fala contra o governo."

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