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Engenheiro e jornalista, foi repórter, correspondente, editor e secretário de Redação na Folha, onde trabalha desde 1991. É ombudsman

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Uma inflação de Bolsonaros

Folha dá espaço demais à verborragia presidencial

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São Paulo

"É aquela coisa, Pelé fala, pensa e diz." Com certa dose de maldade, era assim que um colega resumia os eventos do rei do futebol em uma fase marcada por sua incontinência verbal. De platitudes a grandes ideias, passando por umas tantas bobagens, o que o maior atleta do mundo falar está falado e precisa ser registrado.

Jair Bolsonaro não é atleta nem majestade, mas o que o presidente da República fala, pensa e diz é notícia. Ou deveria ser. É um problema quando quem ocupa espaço de fala tão importante se esquece da responsabilidade do cargo que ocupa. Mais grave quando isso ocorre por oportunismo.

Bolsonaro mudou de tática na última semana. Ao cercadinho de apoiadores e à propaganda ostensiva postada em redes sociais acrescentou uma série de entrevistas a rádios e canais oficiais. Como observou a Folha em reportagem na sexta (23), com muito tempo para falar e pouco questionamento. Disse o que quis sobre obras, tratamento precoce, urnas eletrônicas, expressou o pensamento vivo do candidato. "Temos dificuldades com parte da grande mídia, temos dificuldades com uma CPI que está funcionando no Parlamento", declarou à Voz do Brasil.

Com tanta dificuldade, o presidente, só na terça (20), mereceu cinco reportagens na Folha com conteúdo produzido a partir de entrevista à rádio Itatiaia: Bolsonaro repete que irá vetar o fundão, Bolsonaro diz que Economia exagerou na reforma tributária, Bolsonaro desdenha da terceira via em 2022, Bolsonaro afirma que Bolsa Família vai a R$ 300, Congresso avalia negociar fundão com Bolsonaro em momento de menor pressão.

Na quinta (22), as chamadas saíram de entrevista à rádio Banda B, de Curitiba: Bolsonaro faz novo ataque ao sistema eleitoral, Bolsonaro diz que enxugamento da economia dará descompressão a Paulo Guedes, Bolsonaro diz ter mandado investigar preço da Coronavac feita pelo Butantan. Se é verdade que só se leem os títulos na internet, o saldo para o presidente é razoável.

Antes que alguém entenda errado, a Folha não foi condescendente com o mandatário nesses dias. O jornal inclusive produziu textos assertivos sobre suas contradições, recuos e mentiras. Como já proposto à Redação em crítica interna, o que cabe discutir é a dificuldade de lidar com a verborragia presidencial, de separar o que é notícia de bravata, e, finalmente, avaliar o quanto da bravata, pelo absurdo da coisa, é notícia. É obrigatório, por exemplo, registrar a proposta de rezar um pai-nosso no meio de entrevista coletiva após uma pergunta incômoda.

Casos assim são fáceis de decidir, mas no varejo a coisa complica, ainda mais na dinâmica atual das Redações, atoladas em registros factuais tornados compulsórios pela disputa de audiência. Eis um terreno fértil para Bolsonaro, que inunda o espaço público com palavras de ordem, preconceitos e autoritarismo, como se ainda estivesse no baixo clero da Câmara. Na verdade, de onde nunca saiu, sabe-se agora. "Eu sou do centrão. Eu nasci de lá."

LEIA OUTRO TRECHO DA COLUNA DE JOSÉ MARIANTE

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