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Engenheiro e jornalista, foi repórter, correspondente, editor e secretário de Redação na Folha, onde trabalha desde 1991. É ombudsman

Onde você estava no 7/9?

Jornalismo vai levar um tempo para explicar o que ocorreu na última semana

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Sete de setembro foi o dia em que dom Pedro 1º, às margens plácidas do Ipiranga, em cima de um cavalo branco, levantou a espada e bradou "independência ou morte". Ou, como também sabemos, o dia em que ele teve uma diarreia à beira do riacho, sem uniforme de gala e montado numa mula. Ou ainda, como aprendemos na última terça-feira, o dia em que Jair Bolsonaro tentou, ao que tudo indica, dar um golpe de Estado. Ou em que apenas sentiu se tinha vento a favor. Ou em que foi inconsequente.

Mesmo que a história mostre mais tarde que o presidente apenas se deixou levar pelo calor do momento, a turma que de fato suou e se arriscou a pegar Covid-19 na Esplanada e na Paulista tinha certeza de qual era o objetivo das aglomerações. O mesmo que os mercados entenderam como risco óbvio de instabilidade, com disparada do dólar e debandada de recursos da Bolsa. Mercados não são patriotas.

Ser uma espécie de primeiro narrador daquilo que um dia vai virar história imputa enorme responsabilidade a jornalistas. É preciso equilíbrio para não embarcar em versões interessadas nem menosprezar fatos que se revelem importantes no decorrer da apuração.

Os principais veículos de imprensa fizeram o trabalho possível na última semana, com erros e acertos. Entre estes, o editorial de capa "Bolsonaro é o perdedor", no impresso de terça-feira, quando a Folha delineou o repúdio que a sociedade brasileira manifestaria a despeito da dimensão a ser alcançada pelos atos golpistas.

Restam lacunas, naturalmente. Faltou explicar muita coisa, mesmo pulando a parte sobre ter sido ou não uma tentativa de golpe. O curioso nessa discussão é que a esquerda atesta que ele está em curso, da mesma forma que a direita ainda o aguarda. Somando as duas posições, não há dúvida.

Sobre antes da manifestação, há muitas. Quem pagou a conta para movimentar tanta gente? CNN Brasil diz que Alexandre de Moraes investiga o financiamento dentro do inquérito das fake news. De quem são as transportadoras que mandaram caminhões para Brasília? Folha e outros tentam identificar os responsáveis. Luiz Fux cogitou mesmo pedir uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) na noite de segunda-feira? BBC Brasil e Valor relatam que assim o ministro do Supremo tirou da inércia as forças de segurança do Distrito Federal após a PM local ceder a manifestantes.

Quanto custou o feriado movimentado do presidente e de aliados, os helicópteros, a segurança? A essa questão, é claro, compete a um governo transparente responder.

Qual era a intenção ao chamar o Conselho da República? Acharam um nome pomposo, como o Rolls Royce? Mais importante, em que momento da quarta-feira o caldo entornou? Até a reunião com ministros, Bolsonaro se mantinha resoluto. Segundo a Folha, foi na hora em que ele percebeu que o desembarque de aliados no Congresso era factível. Para o Valor, foi na hora em que recebeu tal informação de Arthur Lira e depois de interlocutores serem inundados com telefonemas de pesos pesados do PIB.

Por que Michel Temer entrou na novela? Por que é próximo de Moraes, seu indicado ao STF, ou por que faltou combinar com os supostos caminhoneiros a parte em que o golpe não acontece? "Essa greve vai cair diretamente no seu colo", disse o ex-presidente, segundo relato dele ao Estadão.

O que vamos lembrar sobre essa conturbada semana daqui a 20 anos? O grande susto ou a parte inicial do roteiro traçado em "Como as Democracias Morrem", de longe o livro mais citado pela mídia nacional nos últimos tempos?

Onde você estava há 20 anos no 11/9? Estava trabalhando como um louco, sem a mínima ideia do que poderia acontecer no dia seguinte.

Os patriotas

"Quando a Covid-19 chegou e assolou o planeta, ele assinou todos os cheques necessários e liberou bilhões de reais para minimizar o sofrimento do povo brasileiro. Deu liberdade para todos os ministros e pastas agirem no sentido de realizar as ações para combater a pandemia."

"Mesmo com parte da imprensa tentando minimizar sua relevância, as manifestações que lotaram as ruas do país no dia 7 de setembro foram impressionantes. A avenida Paulista, com 14 caminhões espalhados, ficou lotada. Em Brasília, nunca houve tanta gente ocupando a Esplanada dos Ministérios."

"Quando os ministros se incumbem da tarefa de determinar o que é fake news ou 'anticientífico', sem haver nas leis nacionais um parágrafo dizendo que a sociedade cedeu ao Estado o direito de determinar o que é científico, o STF perde respeito e gera ódio."

Os trechos acima não saíram de alguma corrente bolsonarista no Telegram, mas de colunas de opinião publicadas pela Folha na última semana. Leitores procuraram o ombudsman para reclamar.

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