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Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

Memórias se mostram inúteis para melhorar decisões sobre o futuro

História é pródiga em coisas que correm mal, mas o ser humano é a única criatura que não aprende com isso

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A história é pródiga em coisas que correm mal, mas o ser humano é a única criatura que não aprende com isso. A capacidade humana de gerar (e gerir) memórias é claramente sobrevalorizada do ponto de vista da boa civilização.

Apesar de todas as evidências históricas, sempre acabamos cometendo os erros do passado —e deles falando e os antecipando e relacionando, da mesma exata maneira, de geração em geração. Com a mesma gravidade pueril, a mesma surpresa boba, a mesma contemplação insana.

Talvez seja essa, afinal, nossa principal marca como espécie —a única característica que não muda com o tempo—, independentemente do estágio de evolução tecnológica de cada civilização em particular. Não importa o tamanho dos pistões, a resistência das válvulas ou quantos processadores tem o transistor; a gente sempre enfia o pé na jaca.

"O Pensador", de Auguste Rodin, em museu em Paris - Philippe Wojazer - 5.nov.15/Reuters

Pé na jaca quando Neville Chamberlain achou que se podia conversar com Adolf Hitler e a Europa entrou em Guerra; pé na jaca quando Churchill foi a Ialta falar a Stálin sobre a determinação dos povos e uma Cortina de Ferro erguida em Berlim rasgou o mundo ao meio durante quase meio século. Pé de jaca na Ucrânia, quando pensamos que não ia mais haver guerra só porque não havia guerra há muitos anos.

Por algum inexplicável fenômeno de psicologia coletiva, preferimos sempre acreditar na existência de uma paz eterna e universal quando, no passado, todas as tréguas eternas e universais se provaram efêmeras e conjunturais.

Desde que a escapamos à oralidade e aprendemos a guardar memórias, os exemplos que comprovam essa "teoria da jaca" são abundantes, públicos e notórios. Do ponto de vista da melhoria da tomada de decisão sobre o futuro da humanidade, as memórias são inúteis e contraproducentes.

Nem guardadas na escrita, conservadas em estátuas e pinturas, impressas em fotografias, estreladas no cinema ou, agora, vomitadas em direto nas mídias sociais, alguma memória consegue cumprir outra função que não seja inteiramente devotada ao hedonismo.

Por isso, é prazer em vez de perigo, o que as pessoas sentem quando Sergio Moro partilha de novo o palco com Jair Bolsonaro; prazer, em vez de perplexidade, quando Alckmin e Lula se juntam debaixo da mesma chapa, depois do que disseram um do outro. Prazer quando pinta um clima, prazer quando rola um tiroteio, prazer quando um número vira suástica.

Prazer em vez de náusea quando já ninguém quer saber o que é verdade ou o que é mentira. Prazer em assistir a uma mentira como se fosse verdade. Prazer de verdade. Um perigo!

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