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Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

Portugal recebe brasileiros como dono de uma casa pequena que quer dar festa grande

Risco de dar errado é grande, mas, se tudo der certo, pode ser a Fórmula 1

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Mandam os mais elementares princípios da etiqueta e da boa educação que, quando alguém convida para sua casa, deve receber condignamente. Não há nada pior que a memória de uma festa horrível. É nódoa que nunca sai.

Tudo começa na hora da chegada. Se não tem garagem, tem que ter manobrista. Se não tem mordomo, tem de ter relações-públicas. Se não tem champanhe, tem pelo menos de ter cava —sempre brut. Não há nada mais importante que essa primeira impressão. É o princípio da responsabilidade.

Mulher passa por imóvel comercial fechado em Lisboa com pintura retratando a capital portuguesa - Patricia de Melo Moreira - 29.abr.22/AFP

Quem mora em casa pequena não pode chamar uma turma grande. É muito ruim ter os convivas se acotovelando uns aos outros, suando juntos, se acalorando, se escorçoando e se abraçando involuntariamente. O "involuntarismo" é imperdoável. Princípio da proporcionalidade.

Os que habitam casa simples não devem chamar aqueles mais abastados e vice-versa. Na sociedade, os indivíduos acabam sempre por festejar perto de quem vive da mesma forma. É o princípio da identidade.

Mas isso significa que pobres estão condenados a sempre ir a festas de pobre e que ricos só vão a vernissages? É verdade, normalmente acontece assim. Mas nem sempre... Em algumas raras ocasiões, os astros se realinham, os titãs saem do buraco e é preciso reorganizar o universo.

Isso é exatamente o que está acontecendo hoje com o fenômeno migratório do Brasil para Portugal. Um anfitrião pequeno está querendo dar uma festa grande, em uma casa pequena, para convidados ricos e pobres ao mesmo tempo. O risco de dar errado é grande, mas, se tudo der certo, pode ser a Fórmula 1.

Para resolver a equação, acertar a trajetória e respeitar os princípios, é preciso olhar com atenção e sem rancor os traumas das experiências do passado e aprender com eles, para evitá-los no futuro —em vez de invocar Velhos do Restelo e baixada santista.

O país luso é, historicamente, um emissor de imigrantes —para o Brasil, para a África e para a Europa; não tem experiência em receber. O Brasil sempre foi receptor de imigrantes —da Europa, do Japão, da África, do Oriente Médio; não tem experiência em ser recebido.

Os portugueses sempre foram ótimos convidados para ir à festa dos outros, e brasileiros sempre foram ótimos a receber. Mas desta vez a história montou o banquete ao contrário.

Portugal tem de fazer o seu papel. Investir no serviço de manobrista. Não pode ter 50 pessoas no call center (do SEF, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) quando tem 1 milhão de convidados em casa. Precisa de um sistema de renovação automática de vistos e de outro especial de marcação para cônjuges. Está entupido.

O Brasil precisa ter um pouco mais de paciência com o mordomo português —ele ainda está estagiando. Mas vejam bem o lugar da festa de hoje. Mesmo que um pouquinho desorganizado e às vezes lento, parece mesmo a Penha, a Sé, o Ipiranga, a Vila Madalena e a Luz da nossa juventude.

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