José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Apenas o voto pode proteger a democracia dos maus políticos

O que brasileiros escolherem neste domingo fará o futuro de todos; só não vale o voto de silêncio

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Meus amigos se dividem e meu coração também. Este mês foi duro. Falamos muito. Nos desentendemos ainda mais. Discutimos como se nossa própria felicidade dependesse do que vai acontecer no domingo (30). E, pelo menos em parte, vai depender mesmo. Por isso é preciso votar. Só não vale o voto de silêncio.

Minha mãe sempre me falou: para a sociedade, a única coisa que realmente importa é a política, todo o resto é irrelevante. Para ela, que foi jovem nos anos duros da Segunda Guerra Mundial, política era a única coisa a separar a humanidade do caos. Quando a política falhou, a selvageria tomou conta.

Mas, se para evitar o caos e a selvageria precisamos de políticos, para proteger a democracia de maus políticos precisamos do povo. Todo o poder emana dele, que o exerce diretamente ou por meio de representantes eleitos, nos termos da Constituição.

Vendedora ambulante arruma toalhas e bandeiras com os rostos de Lula e Bolsonaro em barraca em Belo Horizonte - Douglas Magno - 25.out.22/AFP

Sendo todos iguais perante a lei —e perante Deus, como acreditam os cristãos— a responsabilidade do que vai acontecer no domingo é partilhada. Uma única responsabilidade, igualmente dividida pelos eleitores que hoje podem escolher quem os representa.

Vale a pena lembrar que não foi sempre assim. Na primeira eleição direta para presidente da República, em 1894, Prudente de Morais chegou ao poder com uns 270 mil votos, que representavam 2% da população da época.

A ampliação do direito de voto aconteceu sobretudo ao longo do século 20. As mulheres puderam votar apenas em 1932, e votaram de fato pela primeira vez em 1935.

No entanto, com a ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945), as mulheres só voltaram a votar em 1946; e depois de 1964, com a ditadura militar, ninguém mais votou até as diretas de 1989.

Em todos os 117 anos de República, o Brasil já teve 34 presidentes, mas apenas 16 —menos da metade— se elegeram pelo voto direto do povo como a Constituição hoje determina. Pense. Menos da metade.

Depois de 1988, a Constituição tornou o voto obrigatório para quase todos (de fora apenas analfabetos, quem têm 16 e 17 ou mais de 70 anos), mas mesmo assim a abstenção se mantém alta. No primeiro turno foi de 21% ou 32,7 milhões de eleitores.

A escolha que brasileiros vão fazer no próximo domingo é muito importante. Em confronto estão duas formas distintas de fazer a política, dois modelos de sociedade, duas visões econômicas, duas percepções diferentes do valor da vida, da família, da segurança, da cultura.

Sei o que prefiro, mas não cabe aqui dizê-lo —até porque o voto é secreto. Repito: todas as brasileiras e todos os brasileiros são iguais. Não há uns maus e outros bons, por mais que apoiadores de Lula e Bolsonaro se demonizem entre si, fazendo-se, um e outro, o melhor garoto-propaganda do adversário.

Em democracia não há cultos ou incultos. Ateus ou evangélicos. Pobres ou ricos. Há apenas cidadãos empoderados em um dos mais maravilhosos países da Terra. O que a maioria dos brasileiros escolher no domingo fará o futuro de todos. Só não vale, repito, o voto de silêncio.

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