Siga a folha

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

Voz inconfundível de Gal Costa significou liberdade nos anos 1970 em Portugal

Cantora teve, para muitos portugueses e por muito tempo, um outro nome; era a Gabriela

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Em um Portugal saído de uma ditadura e fugindo de outra, a inconfundível voz de Gal Costa significou liberdade.

Em alguns lugares na internet ainda é possível comprar ingressos para o show português que Gal ia oferecer em Lisboa no dia 13 de abril de 2023. O link funciona, o ingresso tem preço, várias pessoas estiveram olhando o site e nesta terça havia 26 ingressos disponíveis. Alguém esqueceu o amor por lá.

Gal Costa teve, para muitos portugueses, e durante muito tempo, um outro nome. Ela era a Gabriela. Em um tempo em que o Brasil era quase totalmente desconhecido para a esmagadora maioria da população lusa ela foi a voz de uma nova descoberta.

Gal Costa em show na Espanha em 2006 - Miguel Vidal - 18.jul.06/Reuters

"Quando eu vim para este mundo/ Eu não atinava em nada/ Hoje eu sou Gabriela/ Gabriela, ê/ Meus camaradas." Uma voz fresca, modinha melodiosa, feliz e convidativa, quase estridente para os padrões europeus, ela soava a futuro, ao ouvido e ao coração dos portugueses.

A voz de Gal Costa é a memória sonora da primeira vez que ouvi esse sotaque português —tão diferente, sonoro e vivo, com que hoje me expresso diariamente. Ela era o meu futuro e eu sem saber.

Corria o ano de 1977 e as palavras de Dorival Caymmi mostravam aos portugueses um mundo até então desconhecido. Portugal era o país de velhas senhoras de bigode, chamado pejorativamente de terrinha, atrasado nos usos e costumes, sem autoestradas, sem universidades e sem vida cosmopolita. Viver era uma coisa que se fazia "habitualmente".

A televisão ainda era a preto e branco, mas logo a voz de Gal Costa e a história de Gabriela conquistaram os portugueses. Protagonizada por Sônia Braga, "Gabriela, Cravo e Canela", foi a primeira telenovela brasileira a ser emitida em Portugal, onde estreou a 16 de maio de 1977.

O país estava saindo de um período de grande turbulência política, o "Verão Quente", quando democratas lutaram arduamente contra os comunistas, evitando que Portugal —um país "terrivelmente" católico— não se tenha transformado em uma espécie de Albânia no ocidente europeu. Uma possibilidade que parecia agradar a russos e americanos.

Foi nesse país, que então parecia capaz de poder abraçar dois modelos incompatíveis de sociedade, que a música brasileira, as palavras de Caymmi e a inconfundível voz de Gal significaram liberdade.

Hoje, quase meio século depois, Portugal é um país diferente, onde a modernidade é o padrão e a democracia não é desafiada. Tem um dos mais altos níveis de desenvolvimento humano e se transformou em objeto de desejo para muitos brasileiros.

Quem te batizou, quem te nomeou, nunca importou. É assim que és. Doçura de infância, saudade sem igual. Este é por ti, Gal.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas