Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros
Acampamentos para jovens evangélicos são abadá de Deus
Organizadores repetem que namorar não é o propósito desses eventos, mas também é
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Enquanto alguns brasileiros caem na folia, evangélicos se isolam em acampamentos religiosos. Mas, para os frequentadores, é um segredo guardado à luz do dia que estes retiros têm um quê de carnaval.
"A paquera é um dos objetivos últimos dos retiros para jovens", confidencia Paloma Jaqueta, que é evangélica e antropóloga. "Para ser bem sincera, não consigo pensar em outro motivo para eles acontecerem." Isso porque famílias evangélicas desejam que seus filhos e filhas encontrem pretendentes entre pessoas da mesma religião, da mesma tradição cristã e —se tudo der certo— da mesma igreja.
Os pais do teólogo e historiador André Reinke se conheceram em um retiro e ele também conheceu sua futura esposa nessa situação. "O propósito principal desses encontros não é namorar, mas, no final das contas, todo mundo sabe que é o melhor lugar para se encontrar alguém", relata.
Para o pastor assembleiano Wilian Gomes, aproximar casais é parte das atividades dos retiros. Sua igreja, em Brasília, está reunindo cerca de 3.000 jovens durante o Carnaval. "A gente até anuncia no microfone: 'Quero apresentar aqui este jovem, ele está solteiro!' Daí vem aquela comoção, uma risada geral".
Talvez você esteja imaginando jovens sendo forçados a ir a retiros, o que está longe de ser verdade. "Eles fazem de tudo para participar", relata o pastor Guilherme Damasceno, que cresceu participando dessas atividades. "Durante meses eles vendem panos, feijoada ou lanches para juntar dinheiro". É que, para muitos, esses eventos são oportunidades para se viajar e viver experiências novas. "Tem piscina, jantares temáticos... Me lembro de quatro jovens que viram o mar pela primeira vez."
Evangélica pentecostal e professora universitária, Andrea Alechandre já foi a acampamentos para jovens e, hoje, é palestrante. "A intenção desses encontros é mostrar que Deus não é uma lista de 'não pode'. Que é possível brincar, se divertir, estar feliz sem droga nem bebida."
Não é absurdo comparar esses eventos religiosos com o Carnaval brincado usando abadás. Esse item permite ao folião (que pode pagar por ele), a oportunidade de participar do carnaval de rua de Salvador em ambientes cercados e controlados. Em círculos evangélicos, ouvi algumas pessoas descreverem retiros e acampamentos usando termos parecidos: é um carnaval "light", protegido.
Insistimos em estereotipar evangélicos como ultraconservadores. Mas, no Carnaval, cada um faz o que quer: uns fogem para a praia, outros assistem a desfile, alguns preferem bloquinhos. E há os que brincam sem se sentirem cobrados porque não bebem nem mostram tanto o corpo.
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