Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros
PT não desvendou o 'algoritmo evangélico'
Não foi a fala de Lula sobre o Holocausto que fez a popularidade do presidente cair entre esses religiosos
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Não devemos medir a vitalidade do bolsonarismo pelo que aconteceu na avenida Paulista no mês passado, mas por sua capacidade de influenciar o que evangélicos debatem. E, nos últimos meses, uma mensagem é repetida à exaustão em grupos de WhatsApp e em redes sociais: a de que o governo do PT é alinhado com o identitarismo de esquerda e, portanto, é contra os valores da família cristã. Diz se importar com evangélicos, mas, na prática, apoia ideias progressistas.
É impreciso, então, afirmar que a queda da popularidade de Lula entre evangélicos resulta dos ataques que ele fez a Israel. A sua desaprovação aumenta porque a oposição influencia eficientemente algoritmos em redes sociais. Dessa forma, evangélicos recebem informações críticas ao governo, mas não ficam sabendo das realizações positivas.
Uma bolha informacional se forma na medida em que pessoas com interesses parecidos compartilham entre si os mesmos conteúdos. O algoritmo detecta essa recorrência e "aprende" aquilo que aquele grupo aprova e quer receber. A bolha evangélica se consolida como um espaço anti-PT porque dezenas de publicações circulam todos os dias "ensinando" o algoritmo a destacar publicações que associam PT e Lula a aborto, legalização da maconha e outros temas morais.
Por exemplo, na semana passada, uma interlocutora assembleiana, ex-eleitora de Lula, me mostrou um vídeo em que o deputado Gustavo Gayer, do PL, comenta trechos da programação da Conferência Nacional de Educação, realizada em janeiro. Um representante LGBT diz num debate: "Temos que levar os nossos próprios conteúdos para a sala de aula e dizer: ‘A gente está formando militante, mesmo!’". Gayer pausa a fala e diz: "Ele acaba de admitir que vão formar militantes LGBT".
A interlocutora assembleiana comenta as referências que o vídeo apresenta a publicações escolares que debatem homossexualidade. "Por que Lula permite que essas cartilhas sejam feitas?", questiona. "Se ele não toma providência com o ministro da Educação, é porque concorda."
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, mostrou em entrevista recente à TV Brasil o que não fazer em relação a esse tema. Ela reduziu o problema da comunicação entre governo e evangélicos à atuação de pastores "mentirosos" que "vão para o inferno" porque se aproveitam da "boa-fé" (falta de instrução) dos fieis. É quase uma peça antipetista pronta.
O desafio dos governistas é superar o preconceito que os impede de enxergar a complexidade do campo evangélico e, paralelamente, treinar sua liderança para gerar conteúdo que subverta o algoritmo e chegue a evangélicos conservadores. Não é trivial.
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