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Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

Aspirantes a dirigente precisam deixar interesses de lado pelo esporte

Em algumas entidades sem troca no comando, parece persistir um inverno sem fim

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Desde que começamos a viver em cidade o tempo das coisas parece muito mais determinado pelo relógio do que pela ordem da natureza. Verão é o calor insuportável que faz o asfalto derreter. E o inverno, além do frio, traz consigo o céu cinzento e o recolhimento.

O tempo da natureza foge a essas representações. Basta reparar em todos os ipês amarelos que se espalham pelo país e fazem até o mais sisudo dos ocupados sorrir. Seja uma única flor no limite de um galho ou uma profusão amarela que faz parecer o sol na terra, a árvore símbolo do país nos faz lembrar que a primavera está prestes a chegar.

É isso. Beto Guedes anuncia que a entrada de setembro traz boas novas pelos campos junto com a primavera. Sim, aquela estação que representa o renascimento das coisas vivas que se encontravam adormecidas. Ao atentar para essa dinâmica temos a certeza de que as mudanças ocorrem, queiramos ou não. E mais do que tudo: que toda a aridez e congelamento de um inverno rigoroso é sucedido pelas cores e cheiros da primavera.

Nadadora Ana Marcela durante treino em Santos - Ricardo Nogueira/Folhapress

Acompanho ao longo dos últimos meses as tensões vividas na sucessão da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos. Não apenas ali, mas em outras entidades ocupadas por décadas por uma mesma pessoa, parece persistir um inverno sem fim. Dirigentes eleitos encontram formas de se perpetuar no poder, não por bem do esporte, mas pela satisfação dos interesses particulares. Com o passar do tempo, transformam a instituição em uma extensão da própria casa, esquecendo-se de promessas e projetos partilhados coletivamente que deveriam, em última instância, levar ao desenvolvimento da modalidade por meio dos atletas. É bom não esquecer que não há esporte sem aquelas e aqueles que demonstram suas habilidades na competição.

A CBDA foi ocupada durante anos pelo mesmo dirigente Coaracy Nunes. Ao ser afastado pareceu que um novo tempo se iniciaria para uma modalidade detentora de uma tradição digna de registro. Não falo apenas dos atletas medalhistas olímpicos, o que por si só já seria digno de um imenso orgulho. Refiro-me a todas e todos os atletas, da iniciação aos mais graduados, seja da natação, como dos saltos ornamentais, do nado sincronizado e do polo aquático que ao longo de décadas fez a modalidade ser prestigiada e desejada.

Em um país com dimensão continental, nem só das piscinas vivem os esportes aquáticos. Basta ver a performance de nossas atletas Poliana Okimoto e Ana Marcela nas provas de maratonas aquáticas. A troca de dirigentes me fez pensar que isso tudo entraria no projeto de governança dos novos dirigentes.

Porém, em pouco tempo, a primavera da renovação transformou-se em um frio inverno. Velhos padrões de gestão foram repetidos fazendo ruir o pouco que de bom restava do passado. Sem sede e sem respeito, mais um dirigente foi queimado na fogueira da guerra fratricida pelo poder que se instalou entre a comunidade aquática.

E com isso, abre-se mais uma temporada de luta pelo poder em uma confederação esportiva. Espero viver para ver o momento em que aspirantes ao posto de dirigente deixem de lado seus interesses particulares e efetivamente firmem um compromisso com a comunidade esportiva. Desejo ver o desenvolvimento do esporte e o bem-estar do atleta, não apenas no discurso de eleição, mas principalmente nas ações cotidianas, antes que se sobre apenas as ruínas do que um dia já existiu.

"Quero ver brotar o perdão onde a gente plantou juntos outra vez" o desejo efetivo de um compromisso com aqueles que são a razão de ser do esporte: os atletas.

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