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É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

Descrição de chapéu Governo Biden

Governo pela minoria explica posição da Suprema Corte sobre aborto nos EUA

Destino de temas caros à ultradireita está nas mãos de pequena cabala togada cujos defensores foram eleitos por uma minoria

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Vamos falar de números?

Uma a cada quatro mulheres americanas vai fazer um aborto durante a vida, segundo um estudo publicado em 2017. A maioria dos americanos defende o direito ao aborto. Na população em geral, o apoio à legalização do aborto tem sido relativamente estável e hoje é de 59%, contra 37% que desaprovam.

O apoio ao aborto entre os homens é de 59%, e de 62% entre as mulheres. Hoje, 58% das americanas em idade reprodutiva vivem em estados "hostis" ao aborto, revela um estudo do Instituto Guttmacher. O apoio ao aborto sobe para 87% na população em geral em casos em que a saúde da mãe está em risco e para 84% em casos de gravidez resultante de estupro ou incesto.

Manifestantes a favor do direito ao aborto protestam na cidade de San Francisco, nos EUA - Nick Otto - 3.mai.22/AFP

Entre os católicos —cerca de 21% numa população de 334 milhões—, 48% dizem que a mulher deve ter o direito de interromper a gravidez "na maioria dos casos", com 47% se declarando contra e 5% sem opinião, de acordo com a pesquisa mais recente do Pew Research Center.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) apurou que 49% das mulheres que fazem aborto nos EUA vivem abaixo do nível da pobreza. Só 33% são brancas, e 60% já tiveram pelo menos um filho.

O declínio no número de abortos legais nos EUA é expressivo e contínuo desde os anos 1980. De uma alta de 30 abortos por mil mulheres, caiu para 13,5, queda atribuída em parte ao acesso regular a métodos anticoncepcionais e a programas educativos que reduziram a atividade sexual entre adolescentes.

Eleições têm consequências. A radical direita evangélica americana obteve uma barganha com um playboy nova-iorquino de passado notoriamente promíscuo. Em troca de financiamento à candidatura de Donald Trump, evangélicos reunidos num hotel de Times Square, em 2016, receberam a garantia de que ele ia aparelhar a Suprema Corte e tribunais federais com juízes conservadores.

O pacto grotesco produziu uma vitória nesta semana, quando vazou o rascunho redigido pelo juiz Samuel Alito que abre o caminho para recriminalizar o aborto em dezenas de estados. O vazamento espantoso do documento pode ser obra de insiders progressistas indignados com a derrota ou um esforço para atrelar os quatro juízes (três nomeados por Trump) que endossaram a posição.

Como explicou à Folha a historiadora Anne Nelson, no primeiro aniversário da tentativa de golpe no 6 de Janeiro, a invasão do Capitólio foi um ensaio da direita americana que não tem mais a expectativa de chegar ao poder pelo voto. O plano organizado pela minoria conservadora religiosa americana, cujo epicentro é o obscuro Conselho para Política Nacional, já dura 40 anos e vem resistindo às mudanças demográficas que formam um eleitorado em desacordo com esse projeto de poder.

Um grande aliado do projeto de ditadura da minoria é o jurássico Senado, que confere duas vagas para cada um dos 50 estados americanos. Assim, os três juízes mentirosos que Trump plantou na Suprema Corte —os três afirmaram, sob juramento, nas sabatinas, que respeitariam o aborto legal— conseguiram o cargo vitalício graças a senadores de esvaziados estados rurais.

Os senadores democratas representam 41,5 milhões de eleitores a mais do que os republicanos. O destino do aborto legal e possivelmente do casamento entre pessoas do mesmo sexo, entre outros temas caros à ultradireita, está nas mãos de um pequena cabala togada cujos defensores foram eleitos por uma minoria.

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